Como conhecer o passado do Paraná? Basta conhecer o presente da Austrália!
Matemática

Como conhecer o passado do Paraná? Basta conhecer o presente da Austrália!




Esta é uma postagem que venho preparando há meses, desde o ano passado. Finalmente posso publicá-la. O tema é da mais alta importância histórica, pois mostra de maneira exemplar (talvez até caricata) o absoluto desinteresse do paranaense sobre sua própria história. Por isso, imediatamente já me questiono: quantos demonstrarão algum interesse sobre este texto?

Em sua tese de doutorado defendida na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Geraldo Leão Veiga de Carvalho afirma (página 14): 

"O Paranismo, como o entendemos neste estudo, é resultado do ambiente formado desde as últimas décadas do século XIX para a edificação de uma identidade no Paraná. Foi definido oficialmente em termos estético-ideológicos por Romário Martins em 1927 e tem uma curta mas ativa presença institucional até o encerramento da circulação da revista Ilustração Paranaense, em 1931. Seus efeitos, porém, foram a tal ponto naturalizados no imaginário paranaense que podem ser notados ainda hoje em muitas formulações oficiais ou individuais."

Neste sentido, considero a mim mesmo como um paranista, apesar de ser natural do estado de São Paulo. E demonstro isso levantando a seguinte questão: qual é o real interesse do paranaense sobre o resgate histórico, social e cultural de seu próprio estado?

Há muitos anos ouço o professor curitibano Newton da Costa contar uma estranha história ocorrida na década de 1970, em Curitiba, Paraná. Segundo ele, o General Adyr Ticoulat Guimarães (irmão do médico e Senador Alô Ticoulat Guimarães) reuniu em sua biblioteca particular, ao longo de décadas, uma extensa coleção de publicações (entre livros, periódicos, panfletos e demais impressos) relativas ao estado do Paraná. E tenho esta informação confirmada por outra fonte, desta vez impressa. De acordo com o jornalista Aramis Millarch, em artigo originalmente publicado em 17 de fevereiro de 1974, a coleção do General Guimarães era a mais completa biblioteca paranista até então existente. Após o  falecimento deste ávido colecionador, a viúva do General fez contato com diversas instituições de ensino superior do estado (incluindo a UFPR), com o objetivo de vender ou doar aquele magnífico acervo. No entanto, não houve receptividade de qualquer uma dessas instituições. Nem mesmo o Governo do Estado do Paraná se interessou por aquela extensa coleção de fundamental importância histórica e cultural.

Mas algo inesperado (para os padrões tupiniquins) aconteceu. Uma instituição australiana comprou o acervo. O professor da Costa não recordava ao certo qual foi esta instituição. Ele apenas lembrava que em 1976 visitou uma biblioteca em Canberra, Austrália, e lá encontrou a Paraná Room, uma sala especialmente dedicada ao estado do Paraná, Brasil. 

Fiz contato com a Universidade de Canberra e, após extensas consultas entre arquivos e pessoas daquela instituição, recebi uma resposta definitiva e negativa. Nada sabiam a respeito desta suposta aquisição. 

Procurei contato, em seguida, com a Universidade Nacional da Austrália, também em Canberra. Novas consultas foram feitas e mais uma vez recebi uma resposta negativa.

Com receio de que este importante fragmento da história brasileira estivesse perdido para sempre, fiz uma última tentativa e enviei e-mail para a Biblioteca Nacional da Austrália, novamente em Canberra. Finalmente obtive uma resposta positiva. Traduzo abaixo trechos do e-mail que recebi:

"Agradecemos sua solicitação e pedimos desculpas pela demora para responder. No passado a Biblioteca Nacional da Austrália coletou grandes quantias de materiais da América do Sul, incluindo diversas coleções extensas. Uma delas, a coleção Guimarães, do Brasil, continha muito material do Paraná. De acordo com a nossa equipe da Overseas Colletion Development Unit, a coleção continha duas mil e quinhentas monografias do estado do Paraná e uma quantia não determinada de periódicos. [...] Contudo, a Biblioteca jamais teve uma Paraná Room; seu amigo pode ter visto o material à mostra em uma sala especial por um curto período de tempo. Nos últimos anos, porém, esta coleção, bem como outras da América Latina, foram transferidas para a Universidade La Trobe, por conta do ativo programa de estudos latino-americanos daquela instituição e do pouco uso deste material na Biblioteca Nacional. Você pode encontrar mais informações sobre as coleções latino-americanas da biblioteca da Universidade La Trobe em 

http://latrobe.libguides.com/latinamerica.

A Biblioteca Nacional da Austrália mantém poucos títulos sobre o Paraná, os quais foram adquiridos provavelmente fora das coleções que mencionei. Você pode encontrar este material em nosso catálogo 

http://catalogue.nla.gov.au/

Espero que estas informações sejam úteis para você.

Helen Wade
Reference Librarian
National Library of Australia"

Logo em seguida pude confirmar que a transferência acima mencionada da Biblioteca Nacional da Austrália para a Universidade La Trobe foi realizada em 1991.

Examinando o site da Universidade La Trobe (uma instituição de múltiplos campi no estado de Vitória, Austrália), encontrei apenas duzentas e uma publicações catalogadas on line sob a palavra de busca Parana, incluindo textos do século 19, publicados logo após a emancipação do estado em 1853. O mesmo site permite acesso também ao Boletim da Sociedade Paranaense de Matemática, única publicação especializada em matemática de nosso estado. Vale observar também que a Sociedade Paranaense de Matemática é a única sociedade estadual de matemática no Brasil e é a mais antiga sociedade de matemática deste país.

Entre as publicações paranaenses catalogadas on line na Universidade La Trobe podemos encontrar diversos documentos sobre a colonização do estado, bem como as constituições políticas oficiais promulgadas em 1892 e 1935. Há até mesmo um documento histórico sobre a tirania do Marechal Floriano Peixoto (estranhamente homenageado pelo estado de Santa Catarina, quando este nomeou sua capital como Florianópolis) e seus nocivos efeitos sobre o Paraná.

Em suma, se você, leitor ou leitora, deseja conhecer bem a história do Paraná, é melhor atualizar seu passaporte e comprar um bilhete aéreo para Canberra, Austrália. Sempre critico a falta de interesse do brasileiro sobre ciência e educação. Mas, pelo menos no estado do Paraná, este desinteresse vai muito além. Sequer o paranaense deseja conhecer a si mesmo. E isso se chama Brasil.




- O Que Há De Errado Com As Instituições Privadas De Ensino Superior?
Educação é responsabilidade do Estado? Sim. Mas este saber comum tem sido gravemente distorcido por representantes do ensino superior da iniciativa privada de nosso país. Isso porque educação não é responsabilidade apenas do Estado, mas de todos...

- Movimentos Estudantis
Movimentos estudantis no Brasil são comumente ridículos. Muitas vezes são sustentados pela infiltração de partidos políticos em organizações estudantis ou por discursos medíocres durante movimentos de greve. Durante minha graduação participei...

- Visita à Biblioteca Do Impa
No dia 21 de outubro de 2010, a equipe da Biblioteca de Pós-Graduação em Matemática (BPM) da Universidade Federal Fluminense visitou a Biblioteca do Instituto de Matemática Pura e Aplicada. O bibliotecário Carlos Lima e a estagiária Kátia Vitorio,...

- As Cidades Mais Populosas Do Brasil
As cidades mais populosas do Brasil Por Wagner de Cerqueria e Francisco São Paulo, a cidade mais populosa do BrasilO Brasil é o quinto maior país do mundo em extensão territorial, sua área é de 8.514.876 Km2. A divisão territorial...

- Paraná
Bandeira do ParanáSignificado da bandeira: as cores verde e branca representam, respectivamente, as matas e a paz. O círculo azul com estrelas brancas simboliza o céu do Paraná e a constelação do Cruzeiro do Sul; os ramos são uma referência...



Matemática








.