Como medir a promessa de um aluno?
Matemática

Como medir a promessa de um aluno?



Quando um professor avalia um aluno ou um aluno avalia um professor, o que exatamente está em jogo? 

Muitas postagens já foram publicadas neste blog sobre avaliação. Lamentavelmente não existe a cultura da avaliação sobre avaliações em nosso país. E este é um dos motivos do inquestionável fracasso da educação brasileira como um todo. Professores sistematicamente ignoram, entre outras coisas, que toda avaliação é um processo de medição. E, assim, ignoram que toda avaliação admite margem de erro. Também demonstram desconhecer que avaliações baseadas em respostas ignoram por completo a criatividade de alunos. Em contrapartida, instituições comumente ignoram que os melhores professores são aqueles que têm as piores avaliações feitas pelos seus alunos. E, assim, principalmente instituições privadas perdem a valiosa oportunidade de oferecer ensino de excelência, ao demitirem professores por conta exclusivamente de critérios de popularidade. Enfim, avaliação é um processo feito de forma primária e irresponsável em nossas terras. 

Nesta postagem quero colocar outra possível perspectiva a respeito de avaliações. É aquilo que alguns malucos chamam de "rigor". Um professor que se considera rigoroso em suas avaliações é necessariamente um bom profissional do ensino? Vejamos abaixo um exemplo que considero importante, para ilustrar o delicado papel de avaliações.

Recentemente recebi e-mail de uma ex-aluna, contendo um depoimento pessoal que precisa ser conhecido. Ela foi aluna minha na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I do Curso de Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 2010. No entanto, na época ela me contou que tinha planos para mudar de área de estudos e de instituição. Esta aluna queria estudar marketing na Universidade de Miami, Estados Unidos. E, para garantir sua vaga naquela instituição, era necessário que ela conquistasse pelo menos média 90 (em uma escala de 0 a 100) na disciplina que eu lecionava. Bem, ela estudou mas foi obrigada a fazer exame final. Ao término do exame, sua média final era apenas 70. Mas, diante de seu interesse em estudar em uma instituição evidentemente melhor do que a UFPR, fiz um acordo com esta aluna. Eu registraria sua média final como 91 em troca de notícias sobre seu desempenho em Miami. 

Cinco anos se passaram e finalmente esta ex-aluna enviou o relatório que pedi. Ela se formou em marketing e administração pela Escola de Negócios da Universidade de Miami e hoje trabalha na AmBev, a maior empresa da América Latina em termos de valor de mercado. Em janeiro deste ano ela foi promovida para o cargo de Coordenadora. Esta ex-aluna tem hoje 25 anos de idade.

Por que apresento este exemplo? A questão que desejo colocar em discussão é o objetivo de avaliações em instituições de ensino. A forte tradição de concursos vestibulares, que pretendem avaliar doze anos de escola em dois ou três dias, apresenta reflexos extraordinariamente nocivos em praticamente todas as formas de avaliação ocorridas durante cursos de graduação e até de pós-graduação. Quando um professor corrige uma prova e atribui uma nota, estão sendo levadas em conta as interferências causadas pelo próprio professor? Estão sendo levadas em conta as caraterísticas intrínsecas do próprio aluno? Estão sendo considerados os absurdos usualmente impostos em sala de aula? Estão sendo consideradas as ambições do aluno? 

O que significa ser rigoroso em uma avaliação? Um professor rigoroso é aquele que reprova um aluno por conta de um erro em uma única questão de uma única prova? Um professor rigoroso é aquele que se escraviza a rígidas regras nunca questionadas? Um professor rigoroso é aquele que se julga suficientemente sábio? Ou um professor rigoroso é aquele que rigorosamente destrói sonhos, tratando todos os seus alunos de forma igualitária? 

Nada posso responder sobre outras atividades profissionais. Portanto, não cabe a mim qualquer comparação entre docência e outras profissões. Mas uma coisa posso garantir após uma experiência de três décadas como professor: não é fácil lecionar; não é fácil avaliar; não é fácil julgar. Porém, é sensacional mentir para a Universidade de Miami e ver como esta mentira frutificou na forma de uma meteórica carreira em ascensão. Afinal, reconheço que jamais poderei garantir que qualquer julgamento meu a respeito de qualquer aluno possa honestamente definir quem é este aluno. Jamais terei condições de definir o que um aluno é capaz de fazer no futuro. E o caso aqui relatado é apenas um entre muitos outros que testemunhei.

Quem entender isso, terá um pequeno vislumbre sobre a desgastante tarefa de lecionar. Quem não entender, estará apenas perpetuando o câncer do fracasso brasileiro perante o mundo.




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