O que e quem você ama?
Matemática

O que e quem você ama?



Recentemente um comentarista anônimo deste blog disse que sente raiva de certas postagens aqui publicadas. Isso porque ele observa que vários dos graves problemas das universidades de nosso país são percebidos por muita gente, mas nada é feito para mudar. 

Além deste blog, mantenho uma página Facebook sempre atualizada com notícias relacionadas a temas aqui abordados. E também estou finalizando a produção de vídeos educativos que, em breve, serão disponibilizados em um canal Vimeo. Mas iniciativas como essas, no sentido de promover difusão e discussão sobre ciência e educação, não são novidade alguma. Há milhares delas no mundo todo. Além disso, mídias menos especializadas e muito populares também reservam considerável espaço para temas da ciência e educação. O lado positivo disso tudo é óbvio: o acesso a informações e análises críticas sobre assuntos da mais alta importância. No entanto, existe um lado negativo muito preocupante: a falta de foco. 

As trezentas postagens que antecedem esta tratam de múltiplos temas. No entanto, nenhum deles foi tratado de maneira exaustiva aqui. Certamente não sugiro que algum assunto aqui discutido possa ser compreendido em sua plenitude. Mas a busca pela plenitude é essencial, se alguém honestamente deseja mudanças. 

Navegar na internet atrás de informações atualizadas sobre o que há de mais relevante em ciência, educação e filosofia nos dias de hoje pode ser mais informativo do que navegar em busca de vídeos engraçados sobre gatos que soltam flatulências enquanto soluçam. Mas nenhuma das atividades constrói coisa alguma. 

Navegar persistentemente na internet é apenas um ato de eterna paquera, sem a efetiva busca por real compromisso. 

Um exemplo muito marcante para ilustrar o que digo é a vida de Stephen Hawking, o famoso físico britânico que nasceu exatamente trezentos anos após a morte de Galileu. Antes do diagnóstico de sua doença (esclerose lateral amiotrófica), Hawking era considerado um jovem brilhante que não se destacava nos estudos. Depois que médicos o avaliaram e disseram que ele não poderia viver por mais de dois anos e meio, Hawking e sua família ficaram arrasados. 

Isso obrigou o jovem britânico a refletir sobre a sua vida. Ele dividiu quarto com uma vítima de leucemia e percebeu que sua situação não era tão desoladora, por comparação. E até mesmo seu inconsciente deu um onírico grito de alerta. Hawking sonhou que seria executado. No entanto, havia mais um fator em jogo. O jovem condenado estava apaixonado por Jane Wilde. 

Hawking adorava atividades físicas, incluindo dança. E, vindo de uma família com considerável tradição acadêmica, ele nutria interesse por múltiplos ramos do conhecimento. Mas o amor pela vida e por Jane Wilde o fizeram se concentrar em física teórica. Hawking estava finalmente amando a física teórica e não apenas flertando. 

Sem a incessante busca pela plena compreensão, não há amor. E, sem amor, não há compreensão alguma.

Notei na biografia de Hawking algumas semelhanças com a vida de um conhecido cientista brasileiro. E uma delas, em especial, despertou muita atenção. Durante jantares da família Hawking não havia diálogo algum. Cada membro da família se alimentava enquanto lia um livro. Em conversas pessoais com Newton da Costa, certa vez ele revelou: "Durante o jantar, em minha família, jamais conversávamos sobre assuntos pessoais, mas somente sobre temas de caráter geral, como música, ciência, história, filosofia, artes."

Os poucos que tiveram o privilégio de assistir ao documentário Espírito de Contradição, de Fernando Severo, devem ter percebido que da Costa não se sente muito a vontade para falar a respeito de si mesmo. No entanto, exala uma paixão incontrolável quando discursa sobre matemática, física e filosofia. Isso porque seu amor e sua paixão sempre apontaram para a tênue fronteira entre essas áreas do conhecimento. da Costa conversa fluentemente sobre música, literatura, cinema, religião, linguística, computação, economia, história, direito, ética e até mesmo psicanálise. Mas essas áreas são meras paqueras para ele, apesar de poder trocar ideias relevantes até mesmo com especialistas. No entanto, seu incorruptível amor pela interface entre matemática, física e filosofia culminou com um livro que ainda deverá ser melhor compreendido pelas gerações futuras. Isso é amor. Isso é compromisso consequente de amor. da Costa é um servidor da matemática, da física e, principalmente, da filosofia. Quem ama, serve. E quem serve, faz, constrói, edifica novos mundos. 

Portanto, se alguém deseja mudar algo para melhor, que ame. Chega de paquera. Chega de flertes. Nada muda se apenas criticarmos aqueles que sequer flertam o conhecimento, a cultura, a beleza. São aqueles que sabem flertar que devem decidir se amam algo, se são capazes de amar algo.

O flerte é apenas uma porta entreaberta. Mas você quer entrar para ver o que realmente há lá dentro?




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