Por que?
Matemática

Por que?


No círculo da matemática estamos sempre perguntando. Perguntamos aos alunos como começar, para onde ir, o que fazer. Eles decidem como as coisas caminham durante a aula. Sim, os alunos têm grandes poderes. Mas como disse Ben Parker, o tio do Homem Aranha, com grandes poderes vêm grandes responsabilidades. E as responsabilidades ficam logo claras, eu quero saber o porquê. Não de tudo, claro. Só do que importa. Que no caso é o raciocínio que o educando fez.

A pergunta pode ser simples, a resposta pode estar no quadro, como na reta dos números, a criança responde rápido, como se eu estivesse perguntando algo óbvio. Mas assim que a resposta vem, eu pergunto: "- Por que?" . Até outro dia achava que havia dois motivos:
O primeiro porque quero separar os chutes pelo prazer de chutar (que são bem vindos) e os chutes baseados em algum tipo de raciocínio mais elaborado. Segundo porque quero que as crianças  cooperem umas com as outras. Que compartilhem o que pensaram, para que possam chegar a alguma conclusão juntas.

Descobri essa semana que passou um terceiro motivo: as crianças têm que aprender a conviver bem com os questionamentos. Além de elas aprenderem a questionar e a terem sua curiosidade aguçada, quero que elas convivam bem com a possibilidade, e o fato, de que os outros vão questiona-las.

Perguntar não deveria ofender, mas tenho alunos que ficam bravíssimos quando lhes faço uma pergunta. Outro dia um estourou comigo: "- Por que? Por que? Por que? Você está sempre perguntando 'Por que?'. Eu te dei a resposta certa e você me perguntou o porquê. Eu estava certo." gritava, bem nervoso. 

Nessa hora a ficha caiu. Eles não gostam de ser questionados. Não estão familiarizados com o debate, com a necessidade de explanação do ponto de vista, e muito menos com questionamentos. O "Por que?" é uma afronta, quando, na verdade, a resposta certa merece um prêmio. Afinal, além de responder, cor-re-ta-men-te, diga-se de passagem, ter que explicar o caminho do raciocínio é uma penalização.

Existem vários motivos pelos quais os alunos enxergam a atenção que vem junto ao "Por que?" como uma penalização, talvez um deles seja a falta de confiança no raciocínio. Mas isso reflete algo que vai muito além da confiança e autoestima que a criança possui nela mesma, ou da dinâmica em sala de aula. O comportamento dos meus alunos frente às minhas perguntas é a expressão da nossa sociedade frente ao debate. Na verdade, um reflexo da falta de debate. Sem o hábito do debate ninguém está acostumado a tantas inquisições e qualquer pergunta é uma afronta pessoal que deve ser respondida rapidamente e de forma agressiva, para que ninguém nunca mais se atreva a questionar nenhuma outra posição. Nunca. Problema sério quando você acredita que o diálogo é o caminho para a construção de uma sociedade mais justa. E quando você sabe que você está lidando com gente que tem muito o que falar.

As crianças tem que aprender a conviver melhor com os questionamentos. Pois, só assim, teremos indivíduos familiarizados com discordâncias e dúvidas, e que saberão diferenciar ataques pessoais à ataques a argumentos. Por causa disso, a cada aula tentarei fazer mais e mais perguntas, para que eles se acostumem com a necessidade de reflexão e revisão de posição, seja ela na aula de matemática, seja na vida.




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