No século XVIII, o movimento iluminista não se popularizou somente pelas discussões intelectuais que empreendeu. Além de pautar novas ideias, os partícipes do iluminismo também se preocuparam com a divulgação do conhecimento que estava sendo produzido. Sob essa perspectiva, a criação de enciclopédias se transformou em uma eficiente estratégia de agrupar o conhecimento indispensável para a formação intelectual do homem.
De fato, a ambição dos iluministas acabou gerando bons frutos, tendo em vista que a publicação da famosa “Encyclopédie ou Disctionnaire Raisonné dês Sciences, dês Arts et dês Métiers” (Enciclopédia ou dicionário sistemático das ciências, artes e profissões) acabou sendo um sucesso de crítica e venda. Por outro lado, o elogio a essa iniciativa também gerou reações contrárias de membros do clero e da realeza. Afinal de contas, os enciclopedistas ofereciam ao público uma gama de propostas e questionamentos que iam contra o pensamento religioso e a ordem absolutista.
Ao tomar conhecimento da revolução oferecida pela obra, o rei francês Luis XV organizou um grupo de clérigos que deveria inspecionar a publicação das obras. Apesar da censura, os enciclopedistas continuaram a triunfar no seu intento ao organizar uma série de estratégias de aprovação do seu texto. Utilizando rebuscamentos verbais e construindo uma teia de referências a outros artigos, eles conseguiram preservar o teor de sua mensagem sem despertar a reprimenda de seus fiscais.
Além de promover a divulgação dos saberes, a “Encyclopédie” teve a ousadia de empreender um novo modelo de organização do conhecimento. Vários especialistas, estudiosos, escritores, livreiros, encadernadores e impressores foram economicamente beneficiados pela vendagem dos seus volumes. Em termos comparativos, o desenvolvimento dessa obra esteve próximo ao espírito de planejamento e controle que seriam determinantes ao sucesso da Revolução Industrial.
No ano de 1759, a produção dos próximos volumes da Enciclopédia foi definitivamente proibida na França. Engrossando o coro contra os iluministas, o papa determinou que todos os volumes da obra fossem incluídos no “Index Librorum Proibitorium”, a lista de obras proibidas pela Igreja. Naquele momento, Diderot e D’Alembert, organizadores fundamentais do enciclopedismo, observavam que seu ambicioso projeto editorial poderia não ser concluído.
De fato, a ação das autoridades não seria eficiente para ir contra uma iniciativa que representava os novos valores de uma época. Não por acaso, os enciclopedistas contaram com apoio de funcionários do Estado para que a obra fosse terminada e distribuída sem chamar a atenção das autoridades repressoras. Dessa forma, em 1776, os jornais publicaram a falsa notícia de que volumes finais da Enciclopédia foram publicados fora da França.
Na verdade, a conclusão havia acontecido na própria França graças ao esforço dos publicadores que se entusiasmavam com o retorno financeiro da obra. Por fim, esse movimento acabou lançando bases para que outros valores fossem disseminados pela sociedade europeia. De forma semelhante, os enciclopedistas defenderam o papel de acesso livre à informação que a internet busca hoje cumprir.