Matemática
Colocação pronominal
"[...] a pronúncia brasileira diversificada da lusitana; daí resulta que a colocação pronominal em nosso falar espontâneo não coincide perfeitamente com o falar dos portugueses".
(Said Ali, Gramática Secundária da Língua Portuguesa, 4ª ed. São Paulo: Melhoramentos) "A Gramática, alicerçada na tradição literária, ainda não se dispôs a fazer concessões a algumas tendências do falar de brasileiros cultos, e não leva em conta as possibilidades estilísticas que os escritores conseguem extrair da colocação de pronomes átonos".
(Bechara, Evanildo Moderna Gramática Portuguesa, 37ª ed. rev. amp. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004) |
Existem várias discussões em relação ao critério brasileiro da colocação pronominal face ao modelo português. Como bem salienta Evanildo Bechara, a linguística moderna pede que eles sejam revistos. No entanto, devido aos objetivos desta nossa pequena explanação, nos limitaremos a passar em revista os principais casos de colocação, de acordo com a norma prescritiva das gramáticas tradicionais.
Pronomes oblíquos átonosme/ te/ se/ o(s)/ a(s)/ lhe(s)/ nos/ vos |
Há três colocações possíveis
desses pronomes em relação ao verbo:
Próclise - o pronome vem antes do verbo. Ex.: Não me interessam seus motivos. Ênclise - o pronome vem depois do verbo. Ex.: Interessam-me seus motivos. Mesóclise - o pronome vem no meio do verbo: Ex.: Interessar-me-ão os seus motivos.
A colocação do pronome átono obedece a várias normas, dentre elas, por exemplo, o número de verbos presentes na frase, se é formada de um só verbo ou mais de um (locução verbal) etc.
Próclise
1. Em orações subordinadas: O pai pediu que o filho se afastasse. (substantiva objetiva direta) Seria penoso conciliar o sono no estado de nervos em que me achava. (adjetiva restritiva) Desci pelas escadas do sétimo andar, logo que o zelador do prédio me comunicou, pelo telefone, o acontecimento. (adverbial temporal)
2. Com adjunto adverbial, sem pausa: Naquela época se encontravam em seu cofre os brilhantes provindos de nossa atividade em Goiânia.
Advérbios (hoje, aqui, sempre, talvez, muito...): Ele sempre nos diz as mesmas palavras. Observação: Havendo pausa, o pronome vem depois do verbo.
3. Oração iniciada por palavras interrogativa ou exclamativa: Quem te contou isso? Como você se engana!
4. Junto de palavra de sentido negativo (não, nada, nem, nunca...): Nunca o vi tão triste. Notei, num casaco esporte, a falta de um botão, de cuja perda não me lembrava.
5. Junto de pronomes (Relativos: que, quais, qual, onde.../ Indefinidos: alguém, muitos, todos, poucos.../ Demonstrativos: este, esta, aquele, aquilo...): Todos me deram apoio. Este é o garoto de quem lhe falei. Muitos se dizem capazes de vencer. Essa notícia me pegou de surpresa.
6. Com o verbo no infinitivo precedido de preposição: Até se darem conta do erro, passou muito tempo. (infinitivo)
7. Com o verbo no gerúndio precedido da preposição em: Em se discutindo esse assunto, apresente seus argumentos.
Observação: Se gerúndio não for precedido de em, deve ocorrer ênclise (comparar com o item 3, a seguir).
8. Em orações que exprimem desejo: Os anjos te acompanhem!
9. Conjunções (que, quando, embora, se, como...): Espero que nos encontremos logo.
Ênclise
1. No início de oração: "Disse-me o gerente: A polícia..."
Observação: Na linguagem informal falada ou escrita, contudo, é comum iniciar-se a oração com pronome oblíquo átono. Me diga aí qual foi o resultado do seu time.
Observação: A próclise ou a ênclise em início de oração dependerá do tipo de linguagem que a situação e o contexto recomendam: formal ou informal, falada ou escrita.
2. Com o verbo no imperativo afirmativo: No jantar, alimentem-me pouco.
3. Com o verbo no gerúndio não precedido da preposição em: "...sentia graves acontecimentos tramando-se em torno de mim". "O pão nosso de cada dia dai-nos hoje".
Mesóclise
Coloca-se o pronome no meio do verbo: (a) quando o verbo estiver no futuro; (b) quando iniciar a frase; e (c) quando antes dele não houver palavra atrativa: "Dir-lhe-ei tudo o que penso". "Vê-la-ia hoje à noite". *Jorge Viana de Moraes é professor universitário em cursos de graduação e pós-graduação na área de Letras. Atualmente, mestrando em Língua Portuguesa e Filologia pela Universidade de São Paulo.
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