Manual Ilustrado da Docência
Matemática

Manual Ilustrado da Docência


Este texto é parcialmente baseado em trechos dos livros How to Teach Mathematics (Como Ensinar Matemática), de Steven Krantz, publicado em 1999 pela American Mathematical Society, e O Capelão do Diabo, de Richard Dawkins, publicado no Brasil em 2003, pela Companhia das Letras. O link que ofereço para o livro de Dawkins é transcrito de edição de 2003 da Scientific American Brasil.

Krantz não é um especialista em educação matemática. É tão somente um renomado analista, ou seja, um matemático profissional no sentido estrito do termo. No entanto, considero sua obra leitura obrigatória para qualquer profissional do ensino de matemática. E muito do que ele expõe é perfeitamente aplicável a docentes de outras áreas.

Quanto a Dawkins, trata-se de um zoólogo sul-africano que talvez seja o mais influente divulgador científico vivo. Aqui vão algumas das ideias destes dois importantes autores adaptadas para nossa realidade.


1) O professor deve minimizar a atenção de seus alunos sobre ele mesmo e maximizar a atenção sobre a matéria lecionada. Para isso deve usar roupas discretas, de acordo com o ambiente no qual leciona.


Por mais fascinante que seja o tema estudado, alunos ainda estão sujeitos a distrações. Afinal, os atos de estudar e discutir sobre os temas abordados demandam grande esforço. Por isso o docente deve ser cuidadoso com seu visual.


2) Além disso, o profissional do ensino deve ter em mente que sua linguagem corporal pode dizer mais do que palavras. Analogamente o docente deve estar atento a elementos básicos da linguagem corporal de seus pupilos.

Demonstrações de insegurança, indiferença, desprezo, raiva, angústia, depressão, desânimo, entre outros estados emocionais, podem afetar o desempenho dos discentes.



Por isso, o acompanhamento psicológico qualificado de professores e alunos é fundamental desde o maternal até a pós-graduação.


3) Diante da falta de recursos institucionais para acompanhamento psicológico competente, pelo menos noções básicas de linguagem corporal podem ser obtidas pelos docentes até mesmo na internet.

Lecionar com as mãos no bolso, por exemplo, pode ser inconscientemente assimilado pelos alunos como sinal de descaso do docente.
Já a carência de contato de olhos sobre um discente pode ser interpretada como falta de atenção. Por outro lado, o excesso de contato de olhos pode ser percebido como assédio.


4) Como estudos exigem grande esforço em termos de concentração, muitas vezes o professor se sente estimulado a fazer comentários sobre assuntos que não estão relacionados aos conteúdos lecionados, com o objetivo de oferecer um breve descanso aos alunos. Mas certos temas devem ser evitados, para não gerarem reações emocionais que prejudiquem o andamento das aulas.

Observações de caráter político ou religioso podem produzir reações de antipatia sobre o docente e também priorizar a posterior atenção voltada ao docente e não à matéria lecionada.
Comentários de caráter sexista ou misógino, ainda que feitos na forma de piadas aparentemente inocentes, também podem ser elementos de distração perigosos ao desenvolvimento intelectual de jovens.


5) Devemos ainda levar em conta as pressões institucionais que estimulam o preconceito em sala de aula, muitas delas já sedimentadas até mesmo em universidades.

Afinal, foram universidades estaduais e federais de nosso próprio país de realidades tão diversificadas que iniciaram a institucionalização de formas cada vez mais usuais de preconceito, com a criação de cotas para negros e estudantes de escolas públicas.


6) Professores, ao contrário de advogados, médicos, psicólogos e arquitetos, não têm código de ética devidamente documentado. Além disso, não contam com treinamento para lidar com certas situações corriqueiras em sala de aula. Por isso, eles devem exigir, das instituições de ensino, políticas internas bem definidas que suportem a prática de ensino.

A "cola", por exemplo, é uma forma de trapaça ou fraude contra o sistema de ensino e não contra um professor. Portanto, não compete ao docente a decisão sobre o quê fazer diante dessa grave irregularidade. É a reputação de uma instituição de ensino que está em jogo diante do caso de fraude escolar.


7) O professor deve perceber que ele é apenas uma célula do processo educacional.

Se não houver um diálogo eficiente entre todos os agentes envolvidos na educação (professores, escola, alunos, famílias, mercado de trabalho, governos), continuaremos nos submetendo a situações ridículas de inversão de papéis.


8) No entanto, o professor é uma célula vital. Enquanto agente educacional, o docente não pode ser substituído por mídias de educação em massa. A ele compete não apenas a discussão crítica de matemática, ciências, línguas, história, geografia, filosofia e artes, mas também o exemplo da conquista intelectual.

Não se deve aceitar o conhecimento sustentado pela autoridade ou tradição. Até mesmo o ensino religioso pode e deve ser realizado criticamente. A titulação de um docente deve se refletir apenas como qualificação que melhore a qualidade de suas aulas e não como discurso autoritário ou tradicional sobre aqueles que supostamente devem aprender.


E conhecimento crítico também descarta a revelação como forma de compreensão. O fato de alguém julgar que suas ideias são adequadas, não significa que realmente o sejam, em um contexto social tão amplo quanto a educação.


9) Professores devem também articular o diálogo com profissionais de diferentes áreas. A educação deve operar como uma rede. Devemos abandonar a ideia absurda de que a formação de futuros cidadãos ocorre por ascenção a degraus cada vez mais altos, sustentados em conhecimentos básicos.

O ensino de filosofia em nosso país, por exemplo, mesmo nas universidades, enfatiza uma abordagem ingenuamente histórica e não o pensamento crítico sobre diferentes áreas do saber.

10) Afinal, a realidade mundial é uma rede de interdependências sociais.

E as instituições de ensino devem estar antenadas a essa realidade. Como enfatiza Krantz, não devemos nos apoiar na ideia de que existe um único caminho otimizado para a prática da docência. O mundo é socialmente diversificado. E o perfil individual de cada aluno, cada professor, cada cidadão, é uma variável que deve ser levada em conta no processo educacional.




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