Peixe-gato ou cascudo Família é composta de verdadeiros ativistas da causa ambiental
Matemática

Peixe-gato ou cascudo Família é composta de verdadeiros ativistas da causa ambiental


Professor de Matemática e Biologia Antônio Carlos Carneiro Barroso
Colégio Estadual Dinah Gonçalves
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Teleósteos da ordem siluriforme e da família Loricaridae. Esses são alguns nomes científicos do grupo a que pertence o cascudo ou peixe-gato. Atualmente são conhecidas mais de 200 espécies de cascudos. São peixes exclusivos da América do Sul, com exceção de uma espécie, não menos latina, que vive na Costa-Rica.

Loricaridae é o sobrenome do grande clã dos peixes de água doce. Teleósteo é o peixe que tem esqueleto ósseo. Siluriforme é como os cientistas chamam um peixe grande de água doce, sem escamas e com determinadas caracerísticas do crânio e da bexiga natatória.




Reprodução
Hipostomus punctatus é uma das 200 espécies de cascudo ou peixe gato


Os peixes siluriformes podem ter em comum grandes barbilhos dos lados da boca, quase como os bigodes de um gato: os bigodudos bagres são primos dos cascudos - que, sem barbilhos, ostentam a cara lisinha: eles perderam os bigodes ao longo de sua evolução, iniciada há 144 milhões de anos, no final do Triássico.

Lar, doce água
O cascudo não faz muita cerimônia quanto ao seu habitat. Desde que seja na água doce, ele é encontrado em rios de fundo pedregoso e águas torrentosas, e em águas calmas de fundo lodoso, como no caso do Hipostomus punctatus . Muitas pessoas das regiões interioranas do Brasil - na Amazônia, no Pantanal, no Nordeste e no Sudeste - alimentam-se desses peixes que atingem até 30 centímetros de comprimento, quando crescem em liberdade.

A boca do cascudo localiza-se na parte ventral do corpo - no fim do "queixo"- e suas narinas ficam na parte de cima da cabeça, à frente dos olhos, uma de cada lado. Ele possui corpo delgado, revestido por placas ósseas, e tem a cabeça grande. Sua coloração varia muito entre as várias espécies, mas por vezes o cascudo lembra um tubarão-baleia em miniatura (cinza-escuro com manchas claras). Com sua beleza exótica, os cascudos são muito apreciados por aquaristas.

Ativista ambiental
O peixe-gato guarda sete trunfos que fazem dele uma criatura especial. Pode-se dizer que além de serem peixes bonitos que ajudam na limpeza de aquários, são importantes biomarcadores de qualidade de água e de alimento tanto para o ser humano como para os outros animais.

As sete vidas do cascudo são, na verdade adaptações evolutivas muitíssimo interessantes e algumas delas são de grande importância para a saúde dos ecossistemas aquáticos.

1) Os cascudos são bons pais: eles produzem e cuidam de um número relativamente pequeno de ovos demersais (enterrados posicionados em um ninho ou presos à superfície de uma rocha ou planta, no leito do rio). Prendê-los é importante, pois o fluxo da água pode, facilmente, carregar os ovos. Os filhotes nascem com a forma do corpo e o comportamento similares aos dos peixes adultos.

2) Economizando energia: animais primitivos, em geral, apostam na quantidade de filhotes e não cuidam deles. Essa técnica de reprodução dispersa muita energia e tem pouco resultado. Devorados por predadores, poucos filhotes chegam à idade adulta. Mas os peixes-gato economizam energia - e otimizam sua prole - apostando em menor número de ovos e nos cuidados atentos do pai ou da mãe. Assim, a maior parte dos filhotes (ou alevinos) sobrevive.

3) Peixes-gato podem respirar ar: Embora a maioria dos peixes dependa das brânquias para extrair o oxigênio dissolvido na água e liberar o dióxido de carbono, peixes como o cascudo, os quais vivem em condições de baixas concentrações de oxigênio, não podem obtê-lo totalmente através das brânquias. Por isso, vão além: seu estômago funciona como um "pulmão", adaptado como um sítio de trocas gasosas - com a parede bem fininha, como uma membrana, e ricamente vascularizada.

Quando é preciso, o peixe deve subir à superfície e respirar o ar através das narinas, caso contrário poderá se afogar. Quem já segurou um cascudinho nas mãos, fora da água, pôde observar que ele fica inspirando o ar e expirando, fazendo lembrar a respiração de um mamífero terrestre.

4) Enquanto os outros dormem: muito espertos, esses peixes têm hábitos noturnos. São ativos à noite e descansam durante o dia. Para seus predadores (os que conseguem ficar acordados) é mais difícil caçar no escuro.

5) Cardápio sustentável: cascudos limpam o ambiente ao mesmo tempo em que comem. Alimentam-se de algas e restos orgânicos que se depositam no leito do rio. Por isso, são bastante importantes na ciclagem de nutrientes dos meios em que vivem.

Dentre as espécies de particular interesse científico, estão as Hipostomus punctatus e Liposarcus anisitsi. Ambas apresentam ampla resistência a poluentes e podem sobreviver em lugares muito poluídos, como estão a maioria das águas doces hoje em dia. Claro, não vale exagerar. E quando se fala de exagero, o ser humano bate recordes e nem o cascudo agüenta.

Basta ver notícias recentes nos jornais que mostram cascudos morrendo ou muito doentes por causa da poluição química nos rios Paraná e Paraíba do Sul. Sem falar que esse peixinho já foi o habitante mais típico dos rios Pinheiros e Tietê, em São Paulo, mas sucumbiu à quantidade de sujeira jogada naquelas águas.

6) Quando a natureza supera a tecnologia: estudos bem recentes mostram que os cascudos são importantes biomarcadores da qualidade da água. Como vivem no fundo (são demersais) onde a poluição sedimenta-se em maior quantidade, eles absorvem mais os poluentes. Quando o peixe fica com a coloração desbotada ou apresenta tumores, por exemplo, isto significa problemas de enormes proporções.

A saúde de todo o ecossistema do rio está, então, comprometida -os demais animais do rio também estão contaminados. O ecossistema terrestre litorâneo também fica prejudicado, pois há bichos que bebem a água do rio ou se alimentam de seus peixes. A vegetação circundante faz parte desta terrível reação em cadeia, atingindo, portanto, animais herbívoros. As pessoas que dependem do rio para sobreviver e retiram dele alimento e água, também entram no ciclo de toxicidade, arriscando-se inclusive a desenvolver vários tipos de câncer.

7) Rapel para sobreviver: uma espécie de cascudo, Ancistrus criptofalmus (cascudo de olhos escondidos), possui tentáculos no focinho, lembrando dentes externos ou espinhos. Essas estruturas ajudam o peixe a nadar contra a correnteza e até a subir cachoeiras, escalando as rochas, como um pequeno praticante de rapel. É um peixe que nunca vê a luz do dia e só foi encontrado até hoje em águas subterrâneas, em algumas cavernas do Parque Estadual de Terra Ronca, no nordeste de Goiás, onde quase nenhum outro bicho sobrevive.
Mariana Aprile é estudante de biologia na Universidade Mackenzie e bolsista do CNPq.




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