Preciso de um psicólogo
Matemática

Preciso de um psicólogo



Preciso honestamente da ajuda de um experiente e bem qualificado psicólogo ou psiquiatra. Li muitos artigos e livros sobre psicologia. Mas isso certamente não me qualifica para tratar do meu problema. Apresento nesta postagem sintomas de uma pessoa específica, mas muito comuns entre outras. E espero que esses sintomas sejam suficientes para um diagnóstico. A partir deste diagnóstico, preciso saber se o mal apontado tem cura ou, pelo menos, tratamento.

Ontem publiquei neste blog uma postagem que denuncia algo muito grave: o fato de um notório jornalista brasileiro opinar com incisividade sobre temas que evidentemente não conhece. Quando fiz isso, lembrei de uma postagem mais antiga, na qual mostrei uma lista de pesquisadores do CNPq cujas obras são ignoradas pela comunidade acadêmica internacional. Entre esses pesquisadores está Marilena Chauí, considerada por muitos como um dos mais importantes filósofos de nosso país. 

O livro mais conhecido de Chauí é Convite à Filosofia, com milhares de citações. Anos atrás tive contato com esta obra e confesso que fiquei assustado. Mas diante dos últimos eventos neste blog, creio que seja oportuno discutir sobre alguns tópicos tratados no livro.

A responsabilidade de um autor é algo que deveria ser muito grande. E se uma obra faz sucesso, como o livro acima citado, esta responsabilidade pode atingir níveis estratosféricos. No entanto, não percebo responsabilidade nem em Chauí e nem em outros autores muito conhecidos de nosso país (como Olavo de Carvalho). Pelo contrário, Chauí se comporta como se sofresse de alguma compulsão, algo como mitomania (em minha visão de leigo em psicologia). E mais estranho ainda é o fato de que essas mentiras injustificadas parecem ser absorvidas com enaltecimento por muitos dos ditos "intelectuais" de nosso país. É claro que o problema pode estar comigo e não com Chauí. Mas os argumentos que aponto abaixo contestam essa possibilidade.

Esclareço. 

Nas páginas 72 e 73 de seu livro, Chauí afirma o seguinte: "O princípio da identidade é a condição do pensamento e sem ele não podemos pensar. [...] é a condição para que definamos as coisas e possamos conhecê-las a partir de suas definições.". Em primeiro lugar, ela enuncia este suposto princípio da identidade de uma única forma e de maneira extremamente vaga. Existem muitas publicações importantes que tratam do problema da identidade em matemática, física e filosofia, o qual pode assumir múltiplas formas. Além disso, a questão da identidade de partículas elementares em mecânica quântica é tema de importantes pesquisas até os dias de hoje. Ora, é usual que seja admitido que partículas elementares em regime de baixas energias careçam de identidade. No entanto, físicos conseguem pensar sobre elas! Portanto, de duas uma: ou Chauí jamais pensou com seriedade sobre o problema da identidade em filosofia ou os físicos apenas pensam que pensam. Para detalhes, recomendo este livro. 

Na página 75 a autora afirma que a teoria da relatividade "mostrou que as leis da Natureza dependem da posição ocupada pelo observador" e que aquilo que é espaço e tempo para nós pode não ser para outros seres da galáxia. Essas estão entre as afirmações mais estapafúrdias que já li em toda a minha vida. Não existe uma única versão de qualquer uma das teorias da relatividade que sustente qualquer uma dessas afirmações! As equações de Einstein estabelecem uma lei física que independe da posição de um eventual observador. Além disso, não existe qualquer consideração sobre modos de percepção extraterrestres em qualquer uma das teorias da relatividade. 

Na página 81 Chauí afirma que dedução consiste em partir de uma verdade já conhecida e que "funciona como um princípio geral ao qual se subordinam todos os casos que serão demonstrados a partir dela." A sala de Chauí, na Universidade de São Paulo, ficava ao lado da sala de Newton da Costa, um dos mais importantes lógicos da atualidade. Bastava ela perguntar para ele o que é uma dedução! Certamente da Costa responderia sem hesitar. Mas ela preferiu inventar uma visão fantasiosa sobre este importante conceito. As noções atuais sobre dedução em lógica independem de qualquer conceito sobre verdade. Além disso, o que seriam os tais princípios gerais que ela menciona? Ela simplesmente não esclarece. Além disso, Chauí afirma que deduções partem de verdades; mas não diz aonde essas verdades chegam. É uma partida sem chegada. Para uma visão elementar sobre deduções, indico esta postagem.

Na mesma página 81 ela sugere que é possível definir um triângulo como uma "figura geométrica cujos lados somados são iguais à soma de dois ângulos retos." O que é uma figura geométrica? Como é possível somar lados de um triângulo? Como é possível somar ângulos? Ela está confundindo lado e ângulo com medida de lado e medida de ângulo? Se ela não sabe matemática elementar de ensino fundamental, por que não estuda sobre o assunto? E se não quer estudar, por que falar sobre isso?

Ainda nesta mesma página rica em descalabros Chauí fala sobre a dedução de figuras geométricas. Deduções são operações lógicas aplicáveis sobre fórmulas (afirmações, em um sentido intuitivo). Triângulos não são fórmulas (ou afirmações) nas formulações usuais de geometria! 

Na página 239 Chauí fala sobre um tal de silogismo científico, afirmando que este não admite premissas contraditórias. Além disso, ela também afirma que as premissas do tal silogismo científico são universais e que sua conclusão não admite discussão ou refutação. Não tenho ideia do que seria este silogismo científico, pois o texto de Chauí mais parece um cansativo e confuso sermão da montanha, uma vez que ela se recusa a qualificar o que afirma e sequer apresenta referências no meio do texto. Mas silogismos são regras de inferência que envolvem três ou mais ocorrências de fórmulas (ou afirmações). No contexto do que hoje se entende por lógica, não há problema algum em assumir premissas contraditórias. E afirmar que alguma forma de inferência em ciência ou matemática não admite discussão ou refutação, é o mesmo que estabelecer um dogma. Ciência não se faz a partir de dogmas. Para piorar a situação, a autora afirma que premissas devem ser indemonstráveis. Pura loucura! Para um estudo muito bem feito sobre inferências dedutivas, recomendo este clássico da literatura. Para uma comparação muito didática sobre as diferenças entre deduções e induções, recomendo este livro. 

Na página 240 a autora assume explicitamente que a única forma de definições em ciência é a por gênero e diferença. Neste texto há uma discussão bastante resumida sobre alguns dos múltiplos tipos de definição que se usa em ciências reais e formais. Ou seja, Chauí ignora definições ostensivas, operacionais, contextuais, explícitas, entre muitas outras. 

Na página 326 a autora se refere a uma tal de geometria topológica, explicando, entre parênteses, que se trata do estudo do espaço tridimensional. Além do termo "geometria topológica" ser não usual, os poucos livros existentes com títulos que remetam a geometria topológica tratam de assuntos extraordinariamente mais complexos do que meros espaços tridimensionais, como álgebras de Clifford e variedades suaves, entre outros. 

A partir da página 331, então, Chauí concentra todas as suas forças para mentir descaradamente sobre matemática, com uma incessante e perversa rajada de loucuras. Uma das piores afirmações é aquela na qual ela explica o que é um axioma. Chauí diz que "um axioma é um princípio cuja verdade é indubitável, necessária e evidente por si mesma, não precisando de demonstração e servindo de fundamento às demonstrações." Novamente preciso insistir no livro de Mendelson. Não há necessidade alguma de que um axioma seja verdadeiro ou evidente. E, além disso, todo axioma é demonstrável, resultado este muito conhecido em lógica-matemática. Para colocar a cereja vencida sobre o bolo mofado, Chauí ainda julga que axioma e postulado não são sinônimos em matemática. 

Há muito mais trechos no livro que contam com erros grotescos, como os já apontados. Mas acho que já consegui apresentar o meu ponto. Minha pergunta é a seguinte: será que essa compulsão para escrever incessantes mentiras, a partir de opiniões irresponsáveis sobre assuntos não dominados, não se caracteriza como um quadro clínico de alguma forma de distúrbio? É uma pergunta honesta! Eu realmente quero saber! Vejo esse tipo de atitude com expressiva frequência, principalmente entre profissionais das ciências humanas que se julgam capazes de escrever sobre ciências exatas. Além de Chauí, já discuti por aqui sobre o caso muito semelhante de Olavo de Carvalho. E sei que há muitos outros ainda. Por que essa necessidade? O que falta nas vidas desse tipo de gente para agirem desta forma? 

Se alguém puder me esclarecer, ficarei profundamente grato.




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