Matemática
Rio e Recife: sobre duas viagens minhas
Este primeiro semestre de 2015 que agora termina foi marcado, entre outras coisas, por duas viagens que fiz. Em virtude das atividades realizadas neste blog, fui convidado para participar como palestrante em dois eventos: I Verão Professor Global, realizado no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro; e II Congresso de Ensino Jurídico, realizado na Faculdade de Direito de Recife (FDR), da Universidade Federal de Pernambuco.
Faço aqui um breve relatório dos dois eventos.
Ambos foram marcados pela presença de poucas pessoas. Mesmo assim percebi diferenças significativas entre CBPF e FDR.
O evento do CBPF foi definido pela participação dominante de experientes profissionais. Havia um único jovem estudante presente o tempo todo. A única palestra genuinamente interessante foi proferida por José Abdalla Helayël Neto, na qual este brilhante físico apresentou um relatório sobre atividades exercidas por ele para viabilizar a inclusão de classes sociais marginalizadas pela sociedade, criando condições para que jovens de famílias economicamente carentes possam realizar estudos universitários em boas instituições, tanto brasileiras quanto estrangeiras.
Durante um intervalo para almoço cheguei a ouvir de dois professores (um afirmou e o outro concordou) a seguinte frase: "A única pessoa que mantém o CBPF funcionando hoje é o Helayël."
Perguntei: "Mas e o Tsallis? Ele trabalha aqui, não?" A resposta foi um "É" bastante desanimado. O evento nada gerou e desperdiçou tempo e preciosos recursos públicos.
Já o evento organizado por alunos da FDR foi completamente diferente. Apesar de contar novamente com pouquíssimos participantes (em comparação com o tamanho do corpo discente da instituição), eram em sua maioria jovens.
Os professores participantes se dividiram entre aqueles que fortemente apoiam os alunos e aqueles que repetem os velhos jargões "Mas isso é muito difícil de mudar", "A iniciativa de vocês é louvável, mas não temos dinheiro" etc. Os estudantes que participaram do evento também tinham opiniões eventualmente divergentes. Mas o que senti entre eles é um genuíno esforço para melhorar consideravelmente a qualidade do curso de direito da UFPE.
A Faculdade de Direito de Recife sempre está entre as que mais aprovam alunos no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), sistema extremamente rigoroso para controlar o mercado de oferta de serviços advocatícios em nosso país. Se professores tivessem uma representação institucional tão forte como a OAB, certamente não reclamariam tanto dos baixos salários. No entanto, muitos alunos da FDR estão extremamente insatisfeitos com a maneira como o estudo de direito é tratado no Brasil. Uma excelente discussão sobre este tema se encontra aqui.
Em função desta insatisfação, o grupo de estudos Direito em Foco organizou e realizou dois congressos sobre ensino jurídico. O congresso do qual participei resultou em um documento encaminhado para autoridades, tendo como meta principal a melhoria gradual do ensino de direito em uma instituição que é referência nacional. Para acessar o documento, basta clicar aqui. Ou seja, verbas públicas foram usadas para efetivamente atingir metas. Algumas melhorias já foram conquistadas no plano pedagógico da instituição. Mas muito ainda precisa ser feito.
No primeiro dia do congresso (conforme informações que recebi) houve tumulto. Em virtude da presença do Reitor da UFPE, Anisio Brasileiro de Freitas Dourado, sindicalistas tentaram impedir a realização do evento e alunos do Diretório Acadêmico, simpatizantes de movimentos de greve, apoiaram esta baderna com um simples silêncio. Por conta da intervenção de uma jovem estudante e de um advogado trabalhista, a manifestação contrária à realização do congresso acabou se dissolvendo. Um importante evento planejado com meses de antecedência acabou encontrando dificuldades por conta de entusiastas de movimentos de greve sem a mais remota ideia do papel de uma universidade perante a sociedade. Mas, tudo bem. O evento transcorreu muito bem, apesar de divergências iniciais.
Fiz minha breve apresentação no mesmo prédio onde houve reuniões de abolicionistas no século 19. Ou seja, trata-se de um lugar ideal para mudanças e, quem sabe, revoluções. Conversei com uma encantadora jovem estudante que me disse ter ingressado no curso somente na segunda chamada. E ela afirmou que sente responsabilidade por todos os colegas talentosos que conheceu mas que não puderam ingressar no curso, por conta do processo de seleção da instituição. Foi esse tipo de jovem que vi em Recife. E é esse tipo de jovem que imprime esperança, para mim e muitos outros.
Eu não queria publicar esta postagem. O que eu realmente queria era convencer jornalistas para veicular matéria com os conteúdos aqui expostos, promovendo algo semelhante com o que fiz em favor da equipe Polyteck. Isso porque este blog tem visibilidade muito menor do que certos veículos de comunicação em massa. Conversei com alguns jornalistas que conheço, mas não houve receptividade, por conta de fatores que não precisam ser expostos aqui. Uma pena. Logo, não tive escolha. Aqui está o relatório sobre algumas das atividades e conquistas de estudantes de direito em nosso país.
Há necessidade enorme que estudantes entendam de uma vez por todas como deve ser um movimento estudantil. Panelaços ou peladaços nada mudam. Bandeiras vermelhas, gritaria, baderna, idealismos sem valor prático algum, nada mudam. O que muda é o cultivo e o desenvolvimento do conhecimento. Tirar a roupa e bater panela é coisa de macaco de circo. E repetir jargões eternos que nada mudaram até os dias de hoje é coisa de alguém indigno de "descender do macaco". É o cultivo do pensamento original e relevante que deve definir as novas gerações. Mas não creio que macacos de circo consigam entender ou sequer ler uma postagem como esta. Novamente, uma pena.
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