Última Postagem: Sonhos e Frutos
Matemática

Última Postagem: Sonhos e Frutos




Este blog nasceu em outubro de 2009. Mas somente a partir de novembro de 2011 que ele se tornou mais ativo. As postagens podem ser divididas em três grandes categorias: textos técnicos, depoimentos e críticas. O foco principal é a matemática. No entanto, como esta ciência está intimamente presente em inúmeras manifestações culturais, torna-se inevitável a presença de textos de caráter social. 

Quando este blog começou, eu alimentava a esperança de promover construtivo uso da rede internacional de computadores (internet), a qual permite, em princípio, ampla e acessível conexão com o país e o mundo. No entanto, com o passar do tempo, percebi que ainda existe a forte tendência para a formação de nichos sociais praticamente isolados entre si, mesmo em um mundo no qual a comunicação em tempo real é extremamente facilitada. O sintoma mais claro deste fenômeno de isolamento é o fato de que as postagens mais visualizadas deste blog são aquelas que tratam de eventos acontecidos aqui, em Curitiba, Paraná, mais especificamente na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Alguém poderia criticar esta conclusão, assumindo que a visão retratada nas postagens deste blog se limita à miopia pessoal do próprio administrador. Afinal, o administrador deste site deve conhecer de forma mais detalhada sua realidade local do que aquela que permeia outros cantos deste imenso Brasil, o que é obviamente verdade. No entanto, há sistemáticas críticas aqui veiculadas sobre erros graves de matemática cometidos por autores de livros e apostilas e professores. E tais erros ocorrem em toda a literatura especializada do país e não apenas em Curitiba. Portanto, por que essas postagens não alcançaram popularidade comparável àquelas que tratam de problemas locais da UFPR? A resposta que encontro é o limitado interesse sobre aspectos técnicos ligados à matemática. E essa limitação parece ocorrer até mesmo entre estudantes e professores de matemática. 

Sou do tempo da falecida bitnet, uma rede brasileira de computadores que pretendia ser uma resposta à internet, a qual nasceu décadas antes de sua popularização mundial no início dos anos 1990. Já naquela época era possível perceber essa tendência ao isolamento, mesmo diante de uma rede supostamente mundial de computadores. O próprio facebook, hoje a maior rede social eletrônica do mundo, colabora na formação desses nichos isolados. A proposta original do facebook era a de um clube eletrônico exclusivo entre indivíduos das grandes universidades norte-americanas. E apesar do facebook contar hoje com centenas de milhões de membros, ainda se percebe o aglutinamento de meros nichos sociais isolados, seja por limites geográficos, ideológicos ou de meros interesses pessoais. Dificilmente um usuário de facebook de índole mais voltada a atividades culturais terá contato frequente com aquele cujos interesses pessoais estão mais voltados a encontros íntimos com pessoas do sexo oposto. Ou seja, a formação desses nichos é simplesmente natural. Portanto, o suposto alcance global da internet ainda é algo que transcende nosso egoismo. Afinal, egoísta, por definição, é aquele que não pensa em mim. Esta é a trágica contradição sobre o conceito de egoismo! 

Já observei tanto em alunos como em professores, e mesmo pesquisadores, uma desenvoltura maior para opinar sobre assuntos não técnicos. A maioria das pessoas parece ter uma opinião bem definida sobre o trabalho da Presidente Dilma Rousseff ou sobre as acusações de pedofilia contra o falecido cantor Michael Jackson. A maioria das pessoas consegue discutir detalhadamente sobre a influência de Deus em nossas vidas ou sobre políticas educacionais locais e nacionais. No entanto, essa mesma maioria jamais acompanhou de perto o trabalho de um Presidente da República ou a vida pessoal do autodenominado Rei do Pop. Essa mesma maioria tem a pretensão de opinar sobre Deus sem que seja capaz de distinguir revelação de alucinação. E essa mesma maioria se considera capaz de julgar a respeito de políticas educacionais, sem conhecer de fato o que são atividades genuinamente científicas e culturais. Quando o assunto é técnico, poucos tentam acompanhar. Menos ainda opinam. Mas o fato é que é impossível discutir sobre políticas educacionais sem que se conheça realmente bem os temas da educação. Como criticar educação matemática sem saber matemática profundamente? Como opinar sobre políticas científicas sem conhecer ciência intimamente? 

O que motiva a existência deste blog é um interesse meramente pessoal e, portanto, egoísta. Do ponto de vista racional, não consigo encontrar justificativas para esta iniciativa. É claro que uns poucos frutos foram colhidos por aqui. Contatos importantes e até amizades foram feitas. Pessoas com interesses em comum se conheceram e trocaram ideias. Leitores aprenderam algumas coisas por aqui e eu aprendi muito com diversos desses leitores. Recentemente fiz um apelo para que simpatizantes divulgassem na mídia jornalística a respeito do desperdício de intelectos no Brasil e muitos atenderam a este pedido. Alguns foram até além, sugerindo que eu participasse de programas televisivos. E ainda estamos aguardando os frutos dessas iniciativas, as quais evidentemente não podem parar jamais.

No entanto, um primeiro resultado concreto aconteceu recentemente, após três anos de atividades deste blog. Fui transformado em associado da APUFPR contra a minha vontade. 

Lembram da postagem sobre a Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (APUFPR)? Pois é. Na época aquele texto deixou algumas pessoas bastante irritadas. Basta ver os comentários postados. E, recentemente, por mágica coincidência, abri meu contracheque e lá encontrei um desconto inédito em meu pagamento (após quase 23 anos como professor da UFPR): mensalidade da APUFPR. Aparentemente alguém desta associação ficou suficientemente irritado a ponto de me tornar associado. Ou seja, a própria APUFPR reconhece como um castigo ser membro desta organização sindical. Ainda assim, devo confessar que este tipo de atitude produz um certo cansaço. 

Por um lado, percebe-se que muita gente reclama com propriedade sobre nosso sistema educacional como um todo. Por outro lado, pouca gente percebe que é nos detalhes que reside o verdadeiro mal. Daí a necessidade do envolvimento íntimo com educação e ciência. Ainda encontramos professores que insistem verborragicamente que axiomas não podem ser demonstrados. Ainda encontramos autores que definem seno a partir de uma razão entre medidas de lados de um triângulo retângulo. Ainda encontramos alunos que não demonstram interesse real pelos cursos que realizam. E ainda encontramos órgãos sindicais que agem da mesma maneira maliciosa e ilícita que eles acusam como condutas típicas do Governo Federal. 

Os colaboradores que escreveram textos aqui veiculados são pessoas que já passaram por situações realmente estressantes em seus ambientes de estudo e trabalho. Os leitores que comentam aqui são, em geral, indivíduos com o mesmo perfil: profissionais, estudantes e familiares e amigos de estudantes que lutam quase sozinhos por uma educação melhor, apesar das fortes adversidades. Já vi gente comentando em outros círculos que os depoimentos do superdotado e do Doutor Bolivar Alves são meros exageros, casos muito particulares que não merecem alarde. Essas mesmas pessoas são incapazes de perceber que o ato de pensar com originalidade, por si só, é um evento muito raro, muito particular. E sensibilizar a maioria a partir de um blog como este é, talvez, uma atividade tola. Por isso mesmo postei o Pequeno Tratado da Tolice. Isso porque eu esperava que fosse percebido que todos somos tolos. Afinal, apesar da união tecnológica promovida pelas telecomunicações no mundo todo, ainda somos um mero amontoado de pequenas tribos. Ainda somos socialmente isolados, sozinhos e, portanto, tolos. A própria UFPR, minúscula célula invisível perante o resto do mundo, é um amontoado de tribos. E assim todos navegamos juntos, cada um remando para uma direção diferente.

A única esperança que ainda deposito, nesta fase de minha vida profissional, é sobre os jovens. Não consigo ter fé na maioria dos jovens. Mas consigo ter fé em uma minoria que ainda espero fazer a diferença real em algum futuro distante. Isso porque nosso sistema de hoje é simplesmente podre. Mas ainda é uma podridão que permite, eventualmente, desabrochar pessoas como Newton da Costa, Cesar Lattes, Carlos Chagas, Milton Santos e tantos outros exemplos que temos para seguir. Espero que esses jovens se espelhem nestes exemplos. Se o país não os receber bem, que saiam daqui. Se não quiserem ou não puderem deixar a terra natal, que formem seus próprios nichos, aglutinando aqueles que compartilham dos mesmos sonhos. Isso porque a realidade do isolamento não mudará tão cedo. Mas jamais deixem de investir naquilo em que acreditam. 

Se o jovem buscar por motivos racionais para perseguir seus sonhos, provavelmente desistirá muito cedo. O melhor a fazer é admitir que apenas a paixão pelo conhecimento justifica a sua busca. Em geral, a recompensa é meramente pessoal. Ainda assim, mais vale a pena viver lutando do que se entregar à mera satisfação com tão pouco. Carro na garagem e casa na praia não são sonhos que valem a pena. O único sonho que vale a pena é aquele que podemos olhar para trás, em nosso último suspiro nesta terra, e ainda sentir que valeu a pena. Geralmente este tipo de sonho não é alcançado. Porém, mais vale a pena seguir a estrada do que parar na primeira zona de conforto que encontramos. 

O papel das universidades federais no desenvolvimento da nação é fundamental. Aquilo que as universidades federais realizam ou deixam de realizar se reflete nos ensinos fundamental e médio e até mesmo nas universidades privadas. Por isso, faço mais um apelo estratégico aos jovens que estudam em instituições federais de ensino superior: colem na parede, logo acima da lousa de sua sala de aula, um cartaz com a seguinte frase: "Este professor tem seu emprego garantido, independentemente da qualidade de suas aulas." Este cartaz deve ser literalmente colado e legível para todos que estiverem na sala. Se alguém conseguir retirar, cole novamente. É de gota em gota que se derruba a barragem. Ainda que seu professor seja substituto, não há problema. A maioria dos docentes das instituições federais é concursada. E esses docentes morrem de medo de perder a tal da estabilidade.

Não postarei mais textos neste blog enquanto eu não receber fotos desses cartazes. Meu e-mail pode ser encontrado no topo da página.
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Poucos minutos após a publicação desta postagem, Aline Pêgas Pereira concebeu a imagem abaixo. Incentivo a todos que esta imagem seja divulgada em todas as redes sociais. 





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