Breve Síntese da Mente Criminosa
Matemática

Breve Síntese da Mente Criminosa




Este é um novo texto que traça importante paralelo entre crime e educação.

Em postagem anterior a respeito da influência da educação brasileira sobre certas atividades criminosas, mencionei o Sr. A. É oportuno agora detalhar um pouco mais a respeito dele.

Durante minha pesquisa de campo patrocinada pelo Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (São Paulo) e apoiada pela Zazen Produções (Rio de Janeiro), consegui contato com o Sr. A através de um escritório de advocacia de São Paulo, capital. Foi nesta cidade que conversei com o Sr. A, em seu próprio ambiente de trabalho. 

Segundo um advogado especializado em crimes contra a propriedade intelectual, o Sr. A foi um dos gigantes da falsificação de calçados no Brasil, movimentando centenas de milhares de reais ao mês com suas atividades ilegais. No entanto, ele foi indiciado e julgado pelos seus crimes. Quando o encontrei ele já trabalhava livremente em um novo negócio: perucas.

Telefonei para o Sr. A, marcando uma entrevista, e fui visitá-lo. Ele não queria conversar por telefone, mas apenas pessoalmente.

Cheguei ao local, em região de muitos negócios, tanto legais quanto ilegais. 

A porta de entrada do estabelecimento, em um edifício comercial, estava trancada. Toquei a campainha e fui atendido por um rapaz. Expliquei quem eu era e o jovem fez contato com o Sr. A por meio de rádio. Ele não usou telefone. Fui então informado que o Sr. A estava a caminho e que eu deveria aguardar.

Resolvi caminhar pelas várias salas do local. Câmeras de vídeo estavam espalhadas em diversos lugares estratégicos. Havia centenas de perucas por todos os lados, de inúmeros tipos e cores. 

Repentinamente encontrei um grupo de chineses em uma das salas. Tentei conversar com eles, mas não falavam português e nem inglês. Ou simplesmente não queriam conversar. Momentos depois um outro chinês se aproximou de mim e perguntou quem eu era. 

Expliquei que eu tinha entrevista marcada com o Sr. A e aproveitei para perguntar o que ele estava fazendo ali. Este chinês respondeu que trabalhava com perucas e, em seguida, questionou: "Qual é o seu produto?" Respondi: "Cinema". Vale lembrar que na época eu estava fazendo pesquisa de campo para a elaboração de um roteiro de cinema sobre a prática da pirataria no Brasil, encomendado pelo cineasta José Padilha. A resposta do chinês foi muito curiosa: "Cinema é um bom produto." A conversa encerrou.

Pouco tempo depois chegou o Sr. A. Ele veio acompanhado de seu filho (um garoto com cerca de seis anos). O Sr. A me atendeu em uma sala reservada, sempre muito simpático. 

Fiz diversas perguntas e ele enfatizou que as autoridades exageraram com as acusações contra ele. Questionei sobre a porta trancada em um ambiente comercial, durante horário comercial. O Sr. A respondeu laconicamente e com um sorriso no rosto: "Segurança, né?" 

Quando eu disse que aquela entrevista fazia parte de uma pesquisa para um projeto cinematográfico sobre a pirataria no Brasil, o Sr. A não se conteve e riu.

Conversei com dezenas de pessoas sobre o problema da pirataria: desembargadores, jornalistas, ativistas, investigadores, policiais, advogados, professores, agentes da Receita Federal, informantes, comerciantes, representantes de consulados e muitos outros. Mas o único que riu da proposta de um filme sobre pirataria foi o Sr. A. Foi uma resposta exatamente oposta à de um comerciante de perfumes que conheci, cujos negócios estavam seriamente ameaçados por conta da desleal competição promovida por criminosos que simplesmente não pagam impostos sobre os produtos que vendem. 

Fui questionado por muita gente sobre meu interesse em conversar com um ex-criminoso. E sempre justifiquei minha postura afirmando que eu precisava conhecer todas as perspectivas possíveis. Ao testemunhar a reação do Sr. A, percebi que minha justificativa tinha bases sólidas.

Segundo o Sr. A, todas as campanhas contra a pirataria servem apenas como publicidade a favor desta prática. O argumento do Sr. A é apelativo: "A pirataria aumenta todos os dias."

Não sou psicólogo e, portanto, só posso passar a minha impressão pessoal a respeito da reação do Sr. A. Julgo que sua postura sobre campanhas de combate aos crimes contra a economia e à propriedade intelectual se justifica por absoluta falta de empatia para com o próximo. Se um cidadão leva em consideração sua responsabilidade social, jamais praticará o crime da pirataria. Não precisa da opressão da lei para diferenciar o certo do errado.

A chave da questão, em minha opinião, é empatia. 

Ao final da conversa, o Sr. A entregou seu cartão de visitas (no qual consta apenas o primeiro nome e um número de celular com códigos internacional e local). Na despedida ele disse: "Se precisar de perucas para o filme, já sabe quem procurar."

Agora comparemos o perfil do Sr. A com parte da vida acadêmica brasileira.

Quando a Trabalhos Universitários respondeu à minha postagem sobre tráfico de teses, esta empresa agradeceu pela publicidade que eu dei. É exatamente a mesma mentalidade do Sr. A! E vale notar que a carta da Trabalhos Universitários está repleta de graves erros de ortografia, pontuação e gramática. É uma pequena amostra da qualidade do trabalho desta empresa que, há mais de dez anos, faz parte do tráfico de teses e demais trabalhos acadêmicos. 

A recente denúncia de que professores de universidades federais acumulam contratos de 40 horas e 20 horas na mesma instituição reflete situação muito parecida. Isso porque muitos desses professores declaram esses cargos acumulados em seus próprios curricula vitae (ou curricula vitarum segundo certos apaixonados) na Plataforma Lattes. Tais professores não percebem irregularidade alguma em suas atitudes. Eles carecem de elementos mínimos de empatia social em seus perfis pessoais. 

O crime organizado na cidade de Nova Serrana, MG, é anunciado livremente em outdoors e revistas locais. Quase não existe a preocupação sobre a ilegalidade e a absoluta carência de moral. Os desprovidos de empatia social estão espalhados pelo país, muitas vezes abertamente expostos, na forma de falsificadores de produtos, traficantes de produtos legais e ilegais, professores e até mesmo pesquisadores do CNPq. Isso mesmo! Existem pesquisadores do CNPq que adotam a mesma estratégia apresentada na postagem sobre o quarto contrato. 

Como existem juízes que acumulam cargos de forma similar, resta a seguinte questão: a quem podemos recorrer?

O ex-reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Carlos Moreira Júnior, foi julgado e condenado em um processo milionário. Foi o mesmo indivíduo que defendeu com fúria (e não é modo de falar) o REUNI e o programa de cotas raciais e sociais, motivado por questões puramente políticas. Foi o mesmo reitor que queria instalar um salão de beleza no Centro Politécnico da UFPR. 

Se o escândalo envolve cifras milionárias, eventualmente merece investigação. Mas o fato é que casos acumulados de contratos acumulados também somam milhões de reais aos cofres públicos. Ou será que esses casos não despertam interesse político?




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