Matemática
Ciência, Tecnologia e Inovação na UFPR
Mecânica quântica é uma teoria física que antecipa fenômenos bizarros, pelo menos do ponto de vista de intuições comuns à maioria das pessoas e sustentadas por experiências pessoais do cotidiano. Entre esses fenômenos há fótons que aparentemente seguem dois caminhos ao mesmo tempo, gatos teóricos que estão simultaneamente vivos e mortos e partículas que parecem interagir entre si, desrespeitando noções usuais de causalidade. No entanto, sem mecânica quântica não haveria o transistor e, consequentemente, não existiria o computador pessoal. Também não existiria o laser e, consequentemente, não haveria a tecnologia Blu-Ray. Para detalhes sobre os inúmeros avanços tecnológicos e inovações consequentes de aplicações da mecânica quântica, recomendo o excelente livro de divulgação científica The Amazing Story of Quantum Mechanics, de James Kakalios.
Outras teorias científicas básicas deram origem a significativos avanços tecnológicos que beneficiam sociedades inteiras. E o estudo deste ramo da sociologia é de grande interesse no mundo de hoje.
Sem ciência, não há tecnologia. E sem tecnologia, não há inovação. Porém, nos dias de hoje as relações entre ciência, tecnologia e inovação são extremamente complexas. Há inúmeros exemplos de avanços científicos consequentes do uso de inovações tecnológicas. Apenas para citar um exemplo, lembro aqui do recente caso do emprego de vídeos do YouTube para avaliação de desempenho de um software que aprende a reconhecer imagens sem intervenção humana. Essa investigação tem viabilizado novas visões sobre pesquisas básicas em inteligência artificial. Portanto, as relações entre ciência, tecnologia e inovação formam hoje uma rede social de grande impacto para a humanidade.
E de que forma uma instituição brasileira e pública como a Universidade Federal do Paraná (UFPR) se integra neste ambiente mundial de ciência, tecnologia e inovação?
De acordo com o Jornal Comunicação, a UFPR obteve sua primeira patente científica apenas em 2013. Isso aconteceu apesar de a Lei de Inovação Tecnológica ter sido instituída em 2004 pelo Governo Federal, com o propósito de estimular o patenteamento universitário em nosso país. Um dos grandes entraves no processo de patenteamento, que pode envolver universidades, institutos tecnológicos e empresas, é a burocracia. O tempo de espera para a decisão final pode demorar até dez anos. Outro problema, mais grave ainda, é a falta de sintonia de nossos professores universitários com realidades externas ao microcosmo acadêmico brasileiro.
Neste meio tempo o Brasil fica obviamente para trás dos países com tradição científica e tecnológica.
Uso aqui o exemplo da UFPR para ilustrar o problema da interface entre ciência, tecnologia e inovação por dois motivos: em primeiro lugar, sou professor de matemática na UFPR e, em segundo, a UFPR está entre as universidades brasileiras que se destacam em termos de número de depósitos de patentes. Ou seja, nosso país definitivamente não faz parte da rede social mundial que impulsiona inovações.
Em função do quadro exposto acima, convidei o professor Alexandre Moraes para conceder uma entrevista ao blog Matemática e Sociedade. Moraes é Coordenador de Propriedade Intelectual da Agência de Inovação da UFPR. A entrevista foi feita por intermédio de Franciele Klosowski, Secretária Executiva da Agência. Lamentavelmente as respostas de Moraes foram sucintas demais. Mesmo assim elas revelam a dura realidade de que professores da UFPR praticamente desconhecem o mundo no qual aquela instituição está imersa. E, além disso, empresários também carecem de visão inovadora. O Brasil é um arquipélago social, no qual professores universitários têm pouco contato com realidades extremamente importantes que existem além dos muros das instituições onde trabalham e empresários ignoram o considerável impacto sócio-econômico do empreendedorismo inovador.
Segue abaixo a lista de perguntas do blog Matemática e Sociedade (MeS) e as respectivas respostas de Alexandre Moraes (AM):
MeS: Qual é o perfil daqueles que procuram a Agência de Inovação da UFPR? E qual é o perfil daqueles que têm real potencial para serem beneficiados por esta agência?
AM: Professores, alunos, equipes de laboratório, grupos de pesquisa que realizam pesquisa aplicada e vinculados da UFPR com perfil empreendedor com interesse em incubação de empresas.
MeS: Quando foi criada a Agência de Inovação da UFPR e como tem sido a sua evolução até o presente momento?
AM: Criada em 2008, apresenta um processo de evolução nos anos seguintes, principalmente após o ano de 2011.
MeS: Quais foram as principais vitórias e os principais fracassos da Agência de Inovação da UFPR?
AM: As principais vitórias foram o aumento do número de pedidos de patente, contratos de transferência de tecnologia e empresas incubadas. Destacamos também a melhoria dos processos internos e a participação da UFPR no sistema de inovação do Paraná, por meio de diversas ações em conjunto com outras instituições.A principal derrota foi não conseguir, até o presente momento, a melhoria das condições de trabalho planejadas e a insuficiência de elementos na equipe para o desenvolvimento pleno da Agência de Inovação UFPR.
MeS: Existe algum acompanhamento do progresso das empresas incubadas? Como se faz este acompanhamento?
AM: As empresas incubadas são acompanhadas por meio de reuniões periódicas entre o Coordenador de Empreendedorismo e Incubação de Empresas nas quais discutem-se os avanços e dificuldades para o desenvolvimento das empresas. Além disso, há também, o acompanhamento por relatórios semestrais que os gestores das incubadas encaminham à Coordenação.
MeS: Quais são os principais obstáculos na criação de parcerias entre a UFPR e empresas da iniciativa privada?
AM: Acredito que o principal obstáculo seja a falta de conhecimento por parte dos envolvidos. A burocracia existe e é essencial para a legitimação do processo, principalmente quando uma das partes é uma instituição pública. A falta de conhecimento sobre o processo administrativo por parte dos pesquisadores e empresas ocasiona atrasos por erros cometidos durante as tramitações nas unidades competentes. Esses erros e atrasos fragilizam a relação. São exemplos da falta de conhecimento: falta de documentos, informações não objetivas e esclarecimentos não prestados, falta de entendimento jurídico das regras da administração pública por parte do corpo jurídico das empresas, falta de conhecimento do processo administrativo por parte do pesquisador responsável pela montagem do processo.
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