Matemática
Como lidar com o desinteresse?
O desinteresse. A indiferença. As agressões. O ambiente de sala de aula em muitas escolas no nosso país é hostil. Reconhecidamente hostil. Os problemas sociais de exclusão, desigualdade, pobreza, desintegração familiar, sobrecarga pedagógica e de trabalho dos professores, de disfuncionalidade escolar, entre outros, todos deságuam no momento único do professor(a) com seus alunos. Precisamos primeiro aceitar essa realidade. A pergunta chave que nossa colega Cínthia levanta 'como lidar com o desinteresse' é chave para o reconhecimento de que o trabalho do Círculo encara de frente os problemas da educação no nosso país e estimula uma reflexão sobre os instrumentos pedagógicos que temos disponíveis para enfrentá-los. Gostaria assim de responder ao post da Cínthia, com quatro grupos de sugestões (ou melhor dizendo, 'lembretes'):
1. O arsenal de Bob e Ellen
O primeiro conjunto de instrumentos que temos são dados pela abordagem do Círculo da Matemática, tais como eles apresentaram para a gente. Estratégias inclusivas como 'manter o perguntar incessante' aos alunos, 'chamá-los pelo nome', 'registrar seus erros no quadro', tentar 'despertar a imaginação' deles passando os problemas com entusiasmo, etc são o primeiro conjunto de instrumentos que devem ser utilizados. Vale a pena aqui revisar o material sobre os princípios pedagógicos do Círculo para retomar esses pontos.
2. Imaginação e o Contexto
Como vimos no II Workshop de Capacitação e como temos vistos nos exemplos dados nesse blog é importante contextualizar o material não somente dentro das dificuldades de sala-de-aula que encontramos, mas também inventar 'novos personagens' (como o Batman, o Pelé, o Neymar, entre tantos outros jogando na reta da bailarina ou máquinas de função mais próximas da realidade das crianças), 'novos materiais' (como os sanduíches de papel ou o barbante representando a reta real) ou 'novos usos dos materiais' (como as linhas da bailarina feitas em escala ampliada para as crianças andarem nela em sala-de-aula). O estoque de exemplos que se pode encontrar nesse blog é grande e não se limita a estes casos citados aqui. Começar a aula com 5 minutos de conversa geral com os alunos(as) pode ser um jeito de descobrir no que eles estão interessados.
3. Resolução de Conflitos
Estimular o diálogo entre as crianças dando atividades que sejam possíveis e agradáveis a elas é uma maneira de se promover a comunicação, e portanto, a diminuição de conflitos entre elas. Mas quando elas realmente se mostrarem hostis, prejudicando a atenção de toda a turma, o melhor é levá-las a direção (ou seja lá qual for o procedimento das escolas). Se deve tentar tudo para a inclusão das crianças, mas quando isso falha, não se pode comprometer todo o trabalho com os demais e transigir com o inaceitável. É importante que as crianças conheçam os limites do que não é permitido.
4. Por fim, a persistência
As primeiras evidências relatadas por educadores(as) do Círculo sugerem que há uma mudança de comportamento que não é imediata, mas progressiva, onde a cada aula se ganha um pouco da atenção dos alunos(as). Algumas aulas podem ser feitas com algumas crianças procurando ignorar tudo o que é dado, mas no fundo, pode ser que elas estejam apreciando o que é feito, e prestando atenção, apesar de disfarçarem, nos demais colegas, que podem estar se divertindo. Nesse caso, é importante persistir e acreditar que no fundo (assim como aconteceu 'magicamente' com o Lorenzo, no I Workshop com o Bob e a Ellen) cada criança tem o seu momento de engajamento, que pode chegar antes ou depois.
Sem dúvida essa pergunta sobre o desinteresse é fundamental não somente para o Círculo mas para a educação no nosso país. Pensem que estamos enfrentando-a de frente e que as respostas conseguidas aqui podem ser de grande importância para o futuro dessas crianças e para o nosso também.
Flavio
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