Jabberwocky e o Vestibular
Matemática

Jabberwocky e o Vestibular




Charles Lutwidge Dodgson (1832-1898) foi lógico-matemático britânico e professor na Universidade Oxford. Adotou o pseudônimo Lewis Carroll e publicou em 1865 o célebre Alice´s Adventures in Wonderland (Alice no País das Maravilhas), um romance que faz notáveis estrepolias de caráter lógico. Em obra posterior, Through the Looking-Glass, Alice lê uma poesia que é explicada por Humpty Dumpty. Hoje esta poesia é conhecida como Jabberwocky e se encontra entre os quinhentos poemas mais citados em língua inglesa, segundo William Harmon, editor de conhecida coletânea da Universidade de Columbia, Nova York. Seguem as primeiras linhas de Jabberwocky:


"Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimble in the wabe;
All mimsy were the borogoves,
And the mome raths out grabe.

"Beware the Jabberwock, my son!
The jaws that bite, the claws that catch!
Beware the Jubjub bird, and the shun
The frumious Bandersnatch!"

Mais de um século depois, inspirado na obra de Carroll, o grupo britânico de humor Monty Pyton realizou o filme Jabberwocky (Herói por Acidente), dirigido por Terry Gilliam. Nesta película um monstro destrói plantações e mata plebeus de um reino da Idade Média. O rei, sob pressão de comerciantes locais, convoca um campeonato entre guerreiros. Estes lutam entre si, matando uns aos outros, com o objetivo de selecionar o mais bravo e forte. O campeão, então, lutará contra o monstro. Por conta de uma atrapalhada, Dennis, vergonhoso filho de um tanoeiro e também escudeiro de um imponente cavaleiro, é confundido com o campeão do torneio e enviado sem rodeios... para matar o terrível monstro Jabberwocky


Algo muito parecido com essa alucinada alegoria se pratica no Brasil. Estudantes lutam entre si por uma vaga na universidade, durante um feroz campeonato que dura dois ou três dias, sendo que muitos dos aprovados são indivíduos que não têm ideia se estão ingressando no curso certo: aquele que definirá seus futuros profissionais. Cada estudante perdido na universidade é um Dennis de Jabberwocky. No lugar de aproveitarmos a força e ambição dos que sonham por um futuro melhor, impomos um sistema cruelmente seletivo que foi ironizado há décadas por um grupo inglês especializado em comédias de cunho crítico social. 


O que exatamente nosso sistema educacional nos ensina? A lição é muito simples: não importa se você foi um excelente aluno durante doze anos de ensinos fundamental e médio; não importa se você realizou atividades extra-curriculares, como participação de grêmios estudantis, estudos de música, xadrez ou ciências; não importa se você foi um grande corredor na maratona de doze anos de educação básica; se você não for um tremendo atleta dos cem metros rasos do vestibular, simplesmente não ingressa na universidade. E, para piorar a situação, ainda se pratica ostensivamente o concurso vestibular que privilegia memória sobre raciocínio. 


O lamentável ENEM apenas reforça a lição de que os estudantes são jogados à lama da confusão, uma vez que já testemunhamos diversos casos de corrupção e fraude nesta ridícula prova de critérios obscuros, e até pessoas que conquistaram nota superior à mínima, mesmo deixando a prova completamente em branco. 


Por que as conquistas e erros de toda a vida estudantil de nossos jovens são ignorados por completo pelas universidades? Por que nossa mentalidade tem que ser tão imediatista? É por isso que não existem associações de ex-alunos na maioria das instituições de ensino? 


A iniciativa do Governo Federal de centralizar o vestibular através do ENEM é uma postura paternalista. É uma forma de dizer que nossas comunidades locais não têm condições de decidir sobre o que é melhor para elas. E isso é triste, simplesmente triste.


O rei do filme Jabberwocky era claramente um pateta, que prometeu à filha aposentos em uma torre que desabou perante os olhos de ambos, enquanto conversavam. E assim tem sido com nossos dirigentes, que nos prometem educação de qualidade em uma nação cujos professores desabam perante a própria incompetência.


O sistema de vestibular brasileiro é um processo que mais produz frustração do que vitória, pois a maioria dos candidadtos é reprovada. E a maioria dos reprovados considera que a culpa pelo fracasso é deles. Até quando vamos aceitar que a maioria de nossos filhos não têm direito ao ensino superior?




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