Matemática
O aluno "quieto"
Semana passada vivenciei uma experiência bastante diferente em uma de minhas aulas. Assumi duas novas turmas em uma escola municipal de Porto Alegre e quando entrei em uma das turmas (4º ano), um dos alunos realmente não queria participar da aula. Digo que a experiência foi diferente, pois ele não só não queria participar da aula, mas também tirou a cadeira da roda e se virou para o outro lado! A princípio, não sabia muito bem como agir, até mesmo algumas crianças comentaram no início da aula "professora, ele está muito brabo!". Resolvi aplicar literalmente a abordagem do Círculo e ver os resultados, assim, deixei ele à vontade, não mandei ele entrar na roda, somente de vez em quando perguntava algo diretamente pra ele, como estava fazendo com os outros alunos, mas ele não respondia. Nos últimos 15 minutos de aula, um dos alunos quis desenhar a máquina de funções, deixei ele fazer a máquina e, enquanto isso, aproveitei para sentar do lado do aluno que estava "quieto" e fiz algumas perguntas sobre a bola que ele estava segurando, surpreendentemente, ele me respondeu. Quando o aluno terminou de fazer a máquina, fui ao quadro realizar a atividade e um-por-um, perguntei aos alunos que número queriam colocar na máquina. No decorrer da atividade, o aluno "quieto" arrastou sua cadeira para a roda e começou a participar sugerindo números. Foi tão legal vê-lo ser "cativado" pela atividade e mudar de postura! Acredito que a abordagem do círculo realmente ajudou nessa situação, pois se eu tivesse pressionado ele a participar ou mesmo a entrar na roda, ele poderia ter uma atitude mais agressiva e se fechar mais. Além disso, no início da aula, os próprios colegas estavam falando sobre como ele estava "brabo", mas, como eu "ignorei" isso e segui com a aula, os colegas também deixaram isso de lado e o aluno não era mais o foco das atenções e sim, a aula. Dessa forma, naturalmente, ele escolheu participar da aula, sem pressões de minha parte ou por parte dos colegas.
Esse aspecto social do Círculo da Matemática é incrível! Só o fato de os alunos não se sentirem em um ambiente hostil e poderem se expressar livremente, sem medo, é um aspecto importante na formação deles como seres humanos. Um aluno, quando pressionado, tende a recuar e muitas vezes se abster da aula e da comunicação com colegas e professores. Proporcionar aos alunos a liberdade de pensar, expressar suas ideias e escolher participar ou não, pode ter um grande impacto em suas vidas e na maneira como eles escolherão construir suas relações e escolhas hoje e futuramente.
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