Na segunda metade do século XIX, a estabilidade política do governo imperial abriu caminho para novos projetos econômicos. Nesse âmbito, podemos destacar que o Brasil tinha especial interesse em preservar os direitos de navegação na região do Rio da Prata, onde embarcações brasileiras garantiam acesso a algumas províncias e empreendiam importantes transações comerciais.
Em contrapartida ao desejo brasileiro, observamos que existiam lideranças políticas uruguaias, argentinas e paraguaias portadoras de outro projeto. Para alguns representantes destes países, os territórios platinos deveriam se reunificar sob os antigos limites que demarcavam o antigo Vice-Reinado da Prata. Por meio desta ação, esses políticos acreditavam que seus países cresceriam e limitariam a influência econômica do Império Brasileiro no espaço platino.
Na década de 1850, essa diferença de projetos para a região Platina promoveu o desenvolvimento de alguns conflitos. O primeiro deles ocorreu assim que o líder do partido Paraguaio “blanco”, Manuel Oribe, se aliou ao presidente argentino Juan Manoel Rosas. Juntos, eles esperavam iniciar a reunificação do Prata. Por outro lado, o Império Brasileiro, os comerciantes uruguaios do partido “colorado” e o governador provincial argentino José Urquiza faziam ampla oposição a esse conchavo político.
Assim que o líder “blanco” Manuel Oribe venceu as eleições uruguaias, com expresso apoio do governo argentino, D. Pedro II enviou tropas contra os dois países. Nesse conflito, as tropas brasileiras saíram vitoriosas e logo entregaram o governo argentino e uruguaio para José Urquiza e Frutuoso Rivera, respectivamente. Dessa forma, mesmo que precariamente, o Brasil mantinha seus interesses no Prata pela força de suas armas.
No ano de 1863, a disputa na região seria mais uma vez retomada quando o líder “blanco” Atanásio Cruz Aguirre – com o apoio do ditador paraguaio Solano López – ganhou as eleições uruguaias. Novamente, o Império Brasileiro acreditava que as aspirações unificadoras atrapalhariam seus interesses econômicos. Dessa vez, sob o pretexto de exigir indenizações a pecuaristas gaúchos, as tropas imperiais derrubaram Aguirre e colocaram o “colorado” Venâncio Flores a frente do Uruguai.
Em resposta a esta ação, o presidente Solano López anunciou o rompimento de suas relações diplomáticas com o Brasil. Logo em seguida, as autoridades paraguaias realizaram o aprisionamento de toda a tripulação do navio Marquês de Olinda, que incluía o presidente da província do Mato Grosso, Carneiro de Campos. Afrontado pela ação paraguaia, o Brasil realizou a declaração de guerra que deu início a vindoura Guerra do Paraguai, que se desenvolveu entre os anos de 1864 e 1870.
Por Rainer Sousa
Mestre em História