Desde o fim da Guerra do Paraguai, em 1870, os militares passaram a ter uma maior visibilidade no cenário político nacional. De uma simples e mal organizada instituição, o Exército passou a atrair os olhos de vários jovens provenientes de classes sociais menos abastadas. Apesar da vitória em terras estrangeiras, os salários e a própria carreira dos militares não eram alvo da atenção das autoridades monárquicas.
Com o passar do tempo, podemos ver que muitos militares passaram a assumir posições contrarias à manutenção do regime monárquico brasileiro. Do ponto de vista ideológico, vários militares já se mostravam simpatizantes ao positivismo. Segundo essa escola de pensamento, uma República forte, centralizada e orientada por princípios racionais representava o melhor dos sistemas de governo a ser seguido. Nesse aspecto, vemos mais uma das bases que fomentaram a oposição dos militares ao Império.
No ano de 1883, esse clima de oposição se tornou mais grave quando um grupo de oficiais atacou o governo por causa de um projeto de revisão da aposentadoria dos militares. Mediante as críticas, o governo recuou prevendo a anulação do projeto. Em contrapartida, vetou que os membros do Exército utilizassem dos meios de comunicação para atacar as instituições ou autoridades do Império.
Em resposta à reprimenda, o tenente-coronel Sena Madureira publicou um texto no qual saudava um jangadeiro cearense que se recusou a transportar escravos para um navio negreiro. Na verdade, ao elogiar o jangadeiro, o provocativo militar fazia um claro repúdio ao sistema escravocrata sustentado pelo Império. Em resposta, o governo impôs a transferência de Sena Madureira da capital para o Rio Grande do Sul.
No ano de 1886, o coronel Cunha Matos redigiu um texto no qual realizou uma série de críticas contra Alfredo Chaves, então ministro da Guerra. Imediatamente esse outro militar foi advertido e punido com uma detenção provisória. Nesse momento, um frenético debate sobre a manifestação dos militares na imprensa tomou corpo. Aproveitando do momento, Sena Madureira publicou um novo artigo onde denunciava a perseguição que vinha sofrendo.
Mais uma vez o ministro da Guerra exigiu que o subordinado fosse punido. Contudo, um grupo de oficiais de Porto Alegre – com a autorização do vice-presidente provincial, marechal Deodoro da Fonseca – fez um novo protesto em que questionava a lei que proibia o direito de resposta dos militares através dos meios de comunicação. Setores aliados ao império ficaram perplexos mediante o apoio que Deodoro da Fonseca, membro do Partido Conservador, cedeu aos seus companheiros de farda.
Entre 1887 e 1889, Deodoro da Fonseca se envolveu em reuniões com várias figuras defensoras do regime republicano. Entre elas destacamos Cunha Matos, Sena Madureira, Benjamin Constant e José Simeão. Em 1889, a subida do visconde de Ouro Preto ao cargo de presidente do gabinete imperial fez com que corressem novos boatos sobre a situação dos militares. Em suma, desconfiava-se que Ouro Preto pretendia dissolver o Exército e fortalecer a Marinha e a Guarda Nacional.
Nesse momento, vários republicanos aconselharam Deodoro que a simples mudança do ministério da Guerra não resolveria a situação. Convencidos, militares e republicanos arquitetaram um golpe para o dia 20 de novembro. Contudo, boatos de que o plano teria sido descoberto antecipou a ação dos conspiradores. Dessa forma, entre os dias 14 e 15 de novembro, um grupo de militares liderado por Marechal Deodoro derrubou o visconde de Ouro Preto e, logo em seguida, impôs o golpe a Dom Pedro II.
Por Rainer Sousa
Mestre em História