Matemática
Transformações Lineares em Espaços de Dimensão Infinita - Parte I
Hoje vamos falar de Transformações Lineares, com um foco específico nas transformações onde o espaço domínio (aqui sempre tratado como E) tem dimensão infinita. Um espaço vetorial nada mais é que um conjunto fechado por somas e por multiplicação por escalares (reais ou complexos, dependendo do caso), e a dimensão do espaço vetorial é definida como a cardinalidade da base deste espaço.
(Aviso: ao leitor sem familiaridade com um pouco de álgebra linear ou análise em nível elementar, recomendamos que espere um pouco e leia o artigo depois de ter mais segurança nesses conceitos)
Uma transformação linear T entre espaços vetoriais E e F é definida como um mapa entre esses espaços satisfazendo
Quando o espaço E=F, dizemos que T é um operador linear, e quando F é o conjunto dos reais, dizemos que T é um funcional linear.
Comecemos com alguns teoremas básicos da teoria mais elementar das transformações lineares:
Proposição 1: Sejam E,F espaços vetoriais normados (isto é, cada um admite uma norma). Então são equivalentes:
(i)
é contínua
(ii)
é contínua em um ponto.
(iii)
é limitada (isto é, leva conjuntos limitados em conjuntos limitados)
Demonstração: : Se (i) vale, obviamente vale (ii). Se
T é contínua em um ponto
y de
E, então, dada
, temos que
. Suponhamos que temos um outro
x em
E e uma sequência
. Como a sequência
, então
. Mas isto equivale a
, e assim
T é contínua em todo o
E.
: Se (ii) vale, então, dado
, existe
tal que
. Mas, como
T é linear, dado
y = Ax, |
x| <
r, então
|Ty| < C. Ou seja, leva uma bola
B(0;
A) em uma outra bola
B(0;C).
: Se
T é limitada, então
T(
B(0;1)) está contido em
B(0;
A), para alguma
A > 0. Mas isto equivale, pela linearidade de
T, que, se
|x| <
r, então temos que
|Tx| <
rA. Daí vemos claramente que
T deve ser contínua no zero.
Corolário 1: Se E tem dimensão finita, então toda transformação linear de E em F é contínua.
Demonstração: Basta mostrar que
T como acima é limitada, pela Prop. 1. Mas isto é fácil: Seja
uma base de
E com cada um dos elementos tendo norma 1. Como um espaço de dimensão finita
k é isomorfo ao
, podemos considerar a norma do máximo em
como a norma de
E. Assim, se
|x| é menor ou igual a 1 em
E,
. Logo,
T é limitada, e, então, contínua.
Vamos construir um exemplo onde E tem dimensão infinita, para obter um funcional T não contínuo em E.
Seja E o espaço vetorial das sequências onde todos menos um número finito de termos é zero. Se
o conjunto desses elementos forma uma base de
E. Além disso, se definirmos um funcional nos elementos de uma base, definimo-no em todo o espaço. Logo, defina
T como
. Considerando no espaço
E a norma dada pela soma dos módulos dos termos da sequência, então todos os termos acima definidos têm norma 1, e, portanto,
T não é limitada neste conjunto, que obviamente é limitado. Logo,
T não pode ser contínua.
Para finalizar esta primeira parte, vejamos um resultado importante:
Definição 1: Um espaço vetorial normado é dito um
espaço de Banach se, dada uma sequência
de Cauchy, então esta sequência é convergente, ou seja, existe
.
Definição 2: Dados E,F espaços vetoriais normados, defina L(E;F) como o espaço dos mapas lineares limitados (contínuos) de E em F.
Proposição 2: Se F é um espaço de Banach, L(E;F) também o é.
Demonstração: Exercício. (Dica: Use que F é Banach para achar a T desejada como limite pontual, e aí use a limitação para provar que T é contínua e que a sequência de fato converge a T)
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