Modelo Matemático Para o Futuro da Humanidade
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Modelo Matemático Para o Futuro da Humanidade



Em postagem de janeiro de 2013, fiz uma breve discussão sobre o papel da educação no futuro da humanidade. Resumidamente, se as civilizações humanas permitirem o curso natural daquilo que foi criado por elas mesmas, sem periódicas revisões drásticas sobre os fundamentos de suas ações, o fim é simplesmente inevitável. Nos últimos cinco mil anos de história várias civilizações foram extintas. E é arrogância achar que as atuais sociedades são imunes à autodestruição. Neste cenário o único fator relevante de intervenção é a educação. E a educação matemática, em particular, desempenha papel central. Justifico a seguir esta tese.

Em 1925 Alfred Lotka e Vito Volterra desenvolveram independentemente um sistema de duas equações diferenciais acopladas para descrever dinâmicas populacionais do tipo presa-predador. Este resultado tornou-se célebre no mundo todo e até hoje é conhecimento obrigatório em cursos de biologia espalhados pelo globo. 

Foi só uma questão de tempo para que outros modelos dinâmicos (inspirados na obra de Lotka e Volterra) fossem elaborados para descrever fenômenos como o desenvolvimento e declínio de sociedades humanas inteiras. Um exemplo bem conhecido (entre dezenas) é o modelo de James Brander e Scott Taylor (publicado em 1998) para descrever a evolução sócio-econômica da Ilha da Páscoa. Para quem não lembra, uma sofisticada cultura humana foi inteiramente dizimada na Ilha da Páscoa (no Pacífico Sul) por responsabilidade inteiramente local. Ou seja, este extermínio ocorreu sem interferências externas, como invasões.

Pois bem. Recentemente foi aceito para publicação no periódico Ecological Economics um artigo que promete forte impacto. Safa Motesharrei e Eugenia Kalnay, da University of Maryland, e Jorge Rivas, da University of Minnesota, desenvolveram um modelo matemático (parcialmente financiado pela NASA) sustentado em quatro equações diferenciais, para antecipar dinâmicas populacionais humanas, levando em conta a evolução de elites sociais, classes sociais desprivilegiadas, recursos naturais e riqueza. Para o leitor acessar o artigo em sua íntegra clique aqui.

Apesar das equações diferenciais serem acopladas, um dos resultados mais surpreendentes (e assustadores) é que tanto a estratificação econômica quanto o abuso de recursos naturais podem conduzir, de forma independente, ao colapso de civilizações.

O modelo de Motesharrei e colaboradores, ironicamente batizado de HANDY (Human and Nature Dynamics), consegue reproduzir com precisão colapsos sociais que já ocorreram em civilizações do passado, o que demonstra a validação da proposta. 

De acordo com as equações de HANDY existe uma maneira de se evitar colapsos irreversíveis: o uso de recursos naturais a um patamar de sustentabilidade, simultaneamente com uma distribuição igualitária de tais recursos. 

É claro que, para que isso ocorra, revisões drásticas precisam ser feitas sobre políticas governamentais e até mesmo sobre a cultura inteira de massas populacionais.

Meu receio com um resultado como este é que ele possa ser facilmente interpretado para fins de propagandas políticas pró-comunismo ou pró-socialismo, algo muito fácil de ocorrer em épocas de vasta ignorância como aquela em que vivemos hoje. 

Para que seja bem compreendida a repercussão do modelo HANDY uma cultura matemática se mostra fundamental, independentemente de ideologias político-partidárias. 

Em um país como o Brasil, no qual praticamente não existe racionalidade em decisões sobre gerenciamento de recursos naturais e distribuição de riquezas, o último veneno que precisamos é o domínio de ideologias. Está na hora de reconhecermos o valor estratégico da racionalidade, para que possamos sobreviver como nação e até mesmo como espécie animal.

Afinal, historicamente falando, foi uma ideologia (de caráter religioso) que acelerou o processo de destruição na Ilha da Páscoa.




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