Matemática
REUNI, Andifes e demais mazelentos
Neste mês a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais do Ensino Superior (Andifes) divulgou o Programa de Expansão, Excelência e Internacionalização das Universidades Federais. Trata-se, como o título sugere, de uma alegada proposta de modernização do ensino superior nas estratégicas universidades federais. O fato mais interessante é que tal programa se sustenta politicamente no atual programa REUNI, aquele que ambiciona o gradual aumento da taxa de conclusão de cursos para 90%.
Vale observar que a Universidade Federal do Paraná (UFPR) aderiu ao REUNI. Lembro até hoje da decisão do Conselho Setorial de Ciências Exatas em relação a este edital do Governo Federal: "Não somos favoráveis ao programa. Mas se a UFPR aderir, pode contar com o nosso apoio." Os temerosos membros do Conselho Setorial tinham consciência de que aprovação de 90% é uma perspectiva não realista. Isso porque ciências exatas contam com uma longa tradição de reprovação em massa de alunos. E tal fenômeno não acontece apenas na UFPR ou em demais instituições brasileiras de ensino superior. Nas melhores universidades do mundo o mesmo problema ocorre. Na Washington State University, por exemplo, cerca de 40% dos alunos matriculados em pré-cálculo reprovam. E, entre os aprovados, somente 50% conquistam aprovação na primeira tentativa. Na internet o leitor pode encontrar inúmeros relatórios sobre os elevados índices de reprovação em Cálculo Diferencial e Integral em universidades de todo o mundo. Se digitar no google as palavras-chave calculus AND "failure rate", aparecerão mais de meio milhão de resultados. E como essa disciplina é vital para cursos de ciências exatas, fica patente que aprovação de 90% é uma perspectiva que deveria ser pensada de forma racional e não colocada como um edital.
Por outro lado, os mesmos medrosos membros do Conselho Setorial de Ciências Exatas estavam cientes de que dizer não ao Governo Federal é uma estratégia politicamente pouco recomendável. Afinal, sem REUNI não há dinheiro. E sem dinheiro, não há novos laboratórios, novas salas de aula, novos equipamentos e demais formas de apoio à pesquisa e ao ensino.
O resultado disso é um discurso patético de modernização, sustentado em uma visão sem sintonia alguma com o resto do planeta.
Mas, uma vez que o REUNI está aí, atendendo à vontade da instituição onde trabalho, tomei uma decisão. Pelo menos neste semestre aprovarei todos os meus alunos de Cálculo Diferencial e Integral dos Cursos de Licenciatura e Bacharelado em Física, desde que realizem todas as provas. Aqueles que encerrarem o semestre letivo com média inferior a 50, estão automaticamente aprovados com média final 50. Ou seja, nem preciso realizar exame final. Já fiz isso antes, conforme relatei na postagem sobre a pobre APUFPR. E não ouvi uma única reclamação, fosse de aluno ou de coordenador de curso. Se o concordante silêncio da comunidade acadêmica continuar, darei prosseguimento a esta postura.
Não estou seguro se conseguirei atingir o índice de 90% de aprovação. Afinal, muitos alunos simplesmente abandonam cursos, sem dar satisfação alguma. Mas estou me empenhando para cumprir com o papel que a UFPR, o Governo Federal e a Andifes esperam de mim.
Enquanto isso, continuo trabalhando nos projetos que considero realmente relevantes. Afinal, lecionar em universidade federal não me parece mais uma atividade que tenha alguma importância social séria.
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