Matemática
Carta de Apoio ao Prêmio Beatriz Pierin de Barros e Silva
Esta postagem foi revisada e aprovada por Luís Felipe de Barros e Silva.
Anos atrás trabalhei com o filósofo norte-americano Patrick Suppes, professor emérito da Stanford University. Posteriormente, por iniciativa dele, hoje existe o Prêmio Patrick Suppes, apoiado pela American Philosophical Society. Tal prêmio tem por meta destacar contribuições relevantes nas áreas de pesquisa deste que foi um dos nomes mais importantes da filosofia da ciência do século passado. Este tipo de procedimento nos países desenvolvidos é muito comum, mas raro no Brasil.Recentemente Luís Felipe de Barros e Silva e família apresentaram, perante o colegiado do Curso de Matemática da Universidade Federal do Paraná, a proposta de criação do Prêmio Beatriz Pierin de Barros e Silva. Explico.
Exatamente doze anos atrás duas professoras do Departamento de Matemática (DMAT) da UFPR faleceram em um brutal acidente na estrada Curitiba-São Paulo: Analice Gebauer Volkov e Beatriz Pierin de Barros e Silva. Ambas realizavam doutorado na Universidade de São Paulo; a primeira em filosofia e a segunda em matemática.
Antes do acidente, que resultou em 19 mortes, tanto Analice quanto Beatriz estavam se destacando em suas áreas de estudo e pesquisa. Em especial a dissertação de Beatriz, orientada por Jin Yun Yuan, despertou atenção até mesmo da Agência Espacial Americana, NASA. Mas a interrupção dessas duas vidas comprometeu a continuidade de relevantes avanços do conhecimento científico.
Em abril de 2000 criei os seminários Analice Gebauer Volkov, os quais contaram com a colaboração de pesquisadores do Brasil (Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro) e do exterior (França e Estados Unidos). No entanto, após seis anos, fui obrigado a cancelar os seminários por falta de interesse da comunidade acadêmica local. O livro de atas dos seminários, instituídos oficialmente pelo DMAT/UFPR, está em minhas mãos.
Na mesma época o Setor de Ciências Exatas nomeou dois anfiteatros com os nomes das professoras, os quais são normalmente chamados pelos usuários de anfiteatros A (Analice) e B (Beatriz).
Hoje a família de Barros e Silva propõe, em parceria com a UFPR, a criação de um prêmio voltado para alunos de iniciação científica e que leve o nome de Beatriz Pierin de Barros e Silva. No entanto, estranhamente, tem havido resistência por parte do Colegiado do Curso de Matemática da UFPR.
As divergências, por incrível que pareça, surgiram em torno de dinheiro. A família de Barros e Silva assumiu o compromisso de premiar projetos de iniciação científica não apenas com um certificado expedido pela UFPR, mas com a possibilidade de uma quantia em dinheiro também (doada pela família). No entanto, o Colegiado do Curso de Matemática está temeroso com esta proposta. O argumento é que, na ausência de uma pessoa jurídica responsável pelo prêmio, a UFPR não poderia responsabilizar a família por eventuais problemas jurídicos sujeitos a ocorrer, como, por exemplo, o não pagamento do prêmio prometido em regulamento.
Levando em conta a quantia considerada (algo em torno de dois mil reais distribuídos entre os dois primeiros colocados) e a forte motivação da família de Beatriz, certamente este receio se mostra injustificado. O Professor Alexandre Kirilov, uma importante liderança matemática da UFPR, tem demonstrado enfático e louvável apoio à proposta. As negociações entre ele e Luís Felipe começaram em Milão, Itália.
O Setor de Ciências Exatas da UFPR já tem um considerável histórico com decisões infelizes e medíocres, típicas de pessoas que pensam com a pequenez do medo. Mas espero que, pelo menos desta vez, se tome a atitude academicamente madura. Ainda há tempo.
Uma vez que não existem mais cátedras na UFPR, que pelo menos um mínimo de memória seja resgatada daqueles que involuntariamente nos deixaram, mesmo prometendo relevantes contribuições para a nossa universidade. Estabelecer o Prêmio Beatriz Pierin de Barros e Silva, cujas normas estão em poder da Coordenação do Curso de Matemática da UFPR, é uma forma inteligente e necessária de dizer que a UFPR faz mais do que apenas abrigar docentes e pesquisadores isolados em suas salas e envolvidos em projetos que pouco são conhecidos pela comunidade que suporta suas atividades através de impostos.
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