Novo espaço, novas surpresas, novas aprendizagens de alunos e educadores
Matemática

Novo espaço, novas surpresas, novas aprendizagens de alunos e educadores


Nesta última semana, a escola onde ministro as aulas do projeto estava com todas as salas ocupadas devido a chegada de uma nova professora. Visto isso, a coordenação providenciou a inserção de um quadro dentro da biblioteca para que as atividades do Círculo fossem alocadas para aquele espaço.
A priori, a mudança de espaço não alteraria, a meu ver, as atividades e o comportamento das crianças. Porém, ao entrar com a primeira turminha da semana, me deparei com uma situação totalmente nova e, por causa disso, senti uma imensa dúvida de como agir com aquelas crianças naquele momento.
Explicando a situação: Ao entrar na biblioteca, as crianças começaram a perguntar maravilhadas "Nossa tio, hoje nós vamos ficar aqui com os livros? Podemos pegar um pra olhar?"
Até aí estava tudo bem, é comum crianças se entusiasmarem por causa do espaço diferente. Porém quando respondi que iriamos fazer nossas atividades do projeto, eles pediram rapidamente "Mas tio, o senhor deixa a gente ver os livros rapidinho no final da aula? É que nunca deixam a gente ver."
Em seguida, perguntei se eles não frequentavam a biblioteca ou se já haviam ao menos ido lá alguma vez. A maioria afirmou já ter frequentado, porém nunca tinham permissão de mexer nos livros, e se mexessem ficariam de castigo ou a alguém chamaria a atenção "brigando", como eles mesmos dizem.
Nesse momento que senti uma enorme dúvida. Como poderia fazer as atividades do círculo sem inibir a curiosidade das crianças pela leitura? Porque, ao ver os livros, tudo que relacionava a matemática havia ficado em segundo plano para elas. O que as interessava realmente era poder olhar pelo menos alguns dos muitos livros existentes ali. Como eu, que tenho formação específica para ministrar aulas nas séries iniciais do ensino fundamental, poderia chamar a atenção dos alunos para a matemática sem bloquear o interesse pela leitura que estava tão vivo naquele momento?
Refleti rapidamente e decidi permitir que nos últimos 10 minutos de aula, no momento dos registros, que os alunos poderiam pegar um livro para ler ou olhar antes do retorno a sala habitual com a professora regente, desde que eles tivessem cuidado e mantivessem as estantes de livros arrumadas. As crianças ficaram muito felizes e participaram das atividades de maneira muito entusiasmada. Isso aconteceu em quase todas as turmas na semana, e eu procedi da mesma maneira com todas elas.
Sinceramente, não tenho ideia se os professores Bob e Ellen Kaplan aprovariam a minha atitude como educador do Círculo da Matemática, assim como a própria coordenação do projeto. Porém, como já discutimos várias vezes durante capacitações e trocas de e-mails, o objetivo principal do projeto é o desenvolvimento de competências por parte dos alunos, e não apenas a questão do conhecimento matemático. Devemos buscar o interesse do aluno pela busca do conhecimento, sem inibir suas curiosidade, e sim estimula-las. Trabalhar em espaços diferentes como a biblioteca, cheios de livros e outros materiais que chamam a atenção das crianças, pode ser um desafio em alguns lugares onde os alunos não tem acesso livre a esses espaços, mas devemos procurar a melhor maneira de incentivá-los sem bloquear o interesse por outras atividades não matemáticas.
Foi isso que eu tentei fazer quando permiti que os alunos tivessem acesso aos livres e, certo ou não, acredito ter sido a melhor decisão que tomei. Pois foi um grande prazer ver as crianças tão felizes em trabalhar "brincadeiras" na matemática, como elas mesmas dizem, e também ver os livros e revistas da biblioteca.


Um abraço a todos.
Victor Ribeiro - Belém/PA




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