Matemática
A área do círculo: uma demonstração
Esta postagem se dedica a demonstrar a conhecida fórmula que fornece a área de um círculo em função do seu raio. Para tanto vamos utilizar conceitos de trigonometria, geometria analítica e cálculo diferencial e integral - em especial a técnica de integração por substituição trigonométrica (desnecessário dizer que vamos lidar com funções de uma variável real). Vamos, então, ao que interessa:
Grosso modo, o Teorema Fundamental do Cálculo (TFC) nos diz que se F é qualquer antiderivada (ou primitiva ou integral indefinida) de f, então:
É comum interpretarmos a integral acima (ou seja, a integral de f definida no intervalo [a, b]) como sendo numericamente igual a área de uma determinada região do plano, a saber, a área abaixo do gráfico de f, acima do eixo-x e limitada lateralmente pelas retas x = a e x = b:
(a interpretação acima vale, apenas, quando f(x) é positiva para todo x em [a, b])
Da geometria analítica sabemos que uma circunferência de raio r e centro na origem (de um sistema de coordenadas cartesianas) pode ser dada pela equação x² + y² = r². Se convencionarmos, como de costume, que o símbolo ? denota apenas a raiz quadrada positiva de um valor, podemos dizer que uma semicircunferência (de centro na origem e raio r) pode ser dada pela seguinte equação: Observe o gráfico da função y acima definida:
Tomemos, então a seguinte função:
Para determinar a área de um circulo, podemos utilizar cálculo integral (calculando uma integral definida) e encontrar a área de uma das seguintes regiões:Se escolhermos a primeira figura, deveremos calcular a seguinte integral definida (e obviamente multiplicar o resultado obtido por 2, visto a região hachurada equivale à metade da área do círculo):Mas, por simplicidade, vamos escolher a segunda delas:Escolhemos esta integral devido ao fato de este zero como limite inferior nos facilitar a vida. É obvio que deveremos multiplicar o resultado final por 4 (pois a área hachurada equivale a um quarto da área total do círculo em questão).
Resumindo: se chamarmos de A a área de um cículo de raio r e centro na origem, teremos:Mas, calculando esta integral definida, podemos mostrar que:Portanto, segue-se que a área do círculo é dado por: Então, para cumprirmos o nosso propósito basta mostrar que de fato aquela integral vale um quarto de ?r². E é isto o que vamos fazer agora (detalhadamente).
Com já vimos (na parte do TFC enunciada acima), para calcular uma integral definida precisamos de uma antiderivada de f. Isto significa que precisamos calcular a seguinte integral indefinida:
Aqui podemos utilizar a técnica da substituição, mais especificamente, a substituição trigonométrica. Para visualizarmos qual deve ser a substituição atente para o seguinte triângulo retângulo (onde colocamos a hipotenusa como sendo o raio do círculo e a variável x como sendo um dos catetos):Observe que a figura acima insere uma nova variável: o ângulo (que varia de acordo com a variação de x). Segue-se dela (da figura) que: Na expressão acima, isolando o x obtemos:
Derivando a função acima (com relação à variável ?) o resultado será:
A expressão acima pode ser arranjada da seguinte maneira (multiplicando ambos os lados por d?):Olhe para a antepenúltima expressão. Observe que segue-se dela o seguinte resultado (quando elevamos ambos os lados à segunda potência):
Substituindo estes dois últimos resultados na integral, obtemos:Colocando r² em evidência (dentro do radical):"Tirando o r de dentro da raiz":Da trigonometria, conhecemos a "identidade pitagórica" sin²(?) + cos²(?) = 1 (que vale para um ângulo ? arbitrário). Pondo ? = ? e isolando o termo que contém o cosseno o resultado será cos²(?) = 1 - sin²(?) . Colocando isto na integral, obtemos:
Extraindo a raiz quadrada do cosseno ao quadrado:Efetuando as multiplicações:Tirando a constante r² para fora do sinal da integral (regra básica):Utilizando mais uma identidade trigonométrica (às vezes chamada "identidade de redução de potência"): Por um procedimento que dispensa comentários: Regra básica (a integral de uma soma é a soma das integrais): Novamente, tirando as constantes para fora das integrais: Aplicando a técnica da substituição na segunda integral, podemos fazer:Substituindo:
Novamente aplicando a regra da constante (na segunda integral): Pelas regras básicas de integração: Aplicando a distributiva:Observe que temos um resultado em termos das variáveis ? e w. Mas nossa variável original é x, então precisamos voltar para elas antes de aplicar o TFC (pois os limites de integração 0 e r são dados em função de x. Poderíamos, alternativamente, reescrever os limites de integração em função das novas variáveis, mas preferimos a primeira opção). Lembrando, então, que w = 2? temos:Lembrando agora que x = r sin(?) podemos isolar o sin(?), tomar o arcsin de ambos os lados e obter:Fazendo esta substituição, obtemos, em fim, uma antiderivada de f:
É comum, após calcularmos uma integral indefinida, somarmos uma constante (por vezes chamada "constante de integração"). Contudo, neste caso não precisamos somar nada, pois para aplicar o TFC (que é nosso objetivo) precisamos de qualquer antiderivada de f, o que equivale a dizer que a constante de integração é totalmente arbitrária. Assim podemos, naturalmente, escolhê-la como sendo igual a zero.
Vamos então aplicar o TFC (enunciado logo no início desta postagem). Para isso, pegamos a expressão acima colocando r (limite superior) no lugar do x e dela subtraímos a mesma expressão, mas desta vez colocando o 0 (limite inferior) no lugar do x:
Simplificando as frações ("dentro dos arcsin"):Sabemos que sin ?/2 = 1, logo o arco cujo seno vale 1 é ?/2, ou seja, arcsin (1) = ?/2; também sabemos que sin 0 = 0, logo o arco cujo seno vale 0 é 0, ou seja, arcsin (0) = 0. Substituindo estes valores:
Simplificando mais um pouco: Simplificando a primeira fração, lembrando que sin ? = 0 e, como já dissemos, que sin 0 = 0, obtemos: Assim, terminamos de mostrar queE é precisamente isso o que queríamos fazer.
Referência: livros de cálculo.Erros podem ser relatados aqui.
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